sábado, 2 de julho de 2011

Itamar, que nasceu no mar ...

Vi os telejornais, nesta noite em que Itamar está sendo velado em Juiz de Fora. Inclusive o nosos, da TV Brasil, que estava muito bom, com trecho da entrevista que o ex-o presidente  nos deu para a série Presidentes do Brasil Democrático. A dele, feita por Azedo, no 3 a 1, com Helena Chagas e Tales Faria.  Falou-se quase tudo sobre Itamar Franco. O topete. Quando ele  era presidente, os jornalistas que cobriamos ou frequentavmos o Palácio nos referíamos a ele como "O topete".  Naquele tempo,  o cabelo nao estava completamente branco, como agora, quando morreu. Morreu senador, posto que o trouxe para a  politica, na gloriosa eleição de 1974, em que a ditadura levou uma sova do MDB nas urnas.

Mais de  uma vez, em nossas conversas, ele me contou casos da campanha em que percorreu Minas num fusquinha. E uma noite chegou a Coromandel. Como sabem, minha familia Cruvinel é de lá. Eu mesma sou do meio rural, nasci na fazenda mas vivi uns tempos na meritória cidade, onde estudei até o segundo ano primário. A familia de minha mãe é de Abadia dos Dourados, onde nunca vivi na cidade mas morei na fazenda do meu avô. De modo que não sou de uma nem de outra, para não desagradar a ninguem. Itamar me contava que chegou a Coró no inicio da noite, não tinha nada marcado com ninguem. Viu uns jovens estudantes na praça (devia ser a pracinha defronte ao cinema porque só mais tarde fizeram a grande praça Abel Ferreira). Parou o fusca, com o amigo que o acompanhava, e ficou ali um tempão, falando contra a ditadura para os estudantes de Coromandel. Causos à parte, Itamar foi votadíssimo e somou-se à bancada da oposição eleita naquele pleito: tinha Orestes Quercia,   Paulo Brossard, Marcos Freire e outros monstros que se consagraram a seguir.

Muitas de suas virtudes foram reconhecidas hoje, inclusive a paternidade do Plano Real. Mas uma delas em quero registrar aqui,  embora outros possam ter se referido a ela: Itamar cumpriu um mandato tampão de dois anos e pouco, após o impeachment de Collor em 1992. Mais que qualquer outro, poderia ter patrocinado a emenda da reeleição. Mas preferiu apenas  terminar seu governo de transição. O Real lhe permitiu eleger seu  ministro da Fazenda, Fernando Henrique,  como sucessor.  O mesmo Real permitiu a FH aprovar a emenda da reeleição e reeleger-se.

Itamar, neste caso, fez o mesmo que Lula: resistiu ao canto das sereias para garantir a normalidade democrática. E ele  estava certo. Aquele momento, ainda conturbado pelo impeachment, nao recomendava tão importante mudança constitucional. FH fez isso num momento melhor, com as coisas mais serenadas.

Vai com Deus, Itamar, que nasceu no mar e fez de Minas sua terra amada.

TC

Um comentário:

  1. Belo texto. Pena que, no final, vc tenha tido a infelicidade de comparar o gesto de Itamar ao de Lula. Mede-se a grandeza de um gesto pela inspiração que a faz nascer. Itamar e Lula tiveram inspirações muito diferentes.

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