domingo, 31 de outubro de 2010

Todas as Dilmas

A campanha acabou e o Brasil vai respirar aliviado amanhã. Desta vez os ódios estiveram mais do que nunca exaltados e os rancores, explicitados. Rancores de classe, inclusive.    Agora Dilma é presidente e não sei se haverá alguma trégua. Talvez haja. Talvez ela - pela origem de classe, nao pelo que pensa e representa - nao desperte em certos setores da vida brasileira e aquela rejeição, aquele desprezo, aquela indignação causada pelo nordestino-operário que ousou ocupar a cadeira de presidente.  Talvez.  Lembro-me do dia em que encontrei uma amiga (rica e bem nascida), no inicio da crise de 2005, e ela me disse: " agora vamos poder vomitar este Lula" . A frase me chocou mas me fez entender muitas coisas, a repensar outras.

Eu seu discurso, vi varias Dilmas mas o melhor foi ver a Dilma mulher falar das questões de gênero, prometendo que será  a primeira para que outras, no futuro, cheguem lá como coisa natural.   Na campanha, ela foi empurrada pela direita fundamentalista que agora conhecemos para um  beco defênsivo. Falou pouco de  seus compromissos neste campo. Depois quero escrever aqui sobre esta nova direita que começou a despontar. Acho que isso pode ser bom, se ela encontrar seu lugar e seu discurso.

Mas ali, no discurso do Hotel Naum,  estavam também a Dilma sensível que chorou ao falar de Lula. A Dilma combativa dos tempos antigos e dos atuais, prometendo não ceder aos que criticam o gasto social.  Estes que chamam bolsa-família de bolsa-esmola.   A Dilma técnica que saberá decidir sobre tantas questões que ainda  tempos que resolver.

Era tarde quando saimos da TV Brasil, depois de uma programação de 5 horas ao vivo acompanhando e comentando a apuração. Fui comer alguma coisa com Carlos Amorim, que muito ajudara na cobertura. A Esplanada fervia, as buzinas espocavam. Passei no Piantela, quase vazio, onde  encontrei Sigmaringa Seixas, do PT, conversando com o ministro Gilmar Mendes, do STF.  Tranquilamente, como acontece nas democracias, mesmo em dias especiais.

No bar, Dirceu e amigios, também longe da festa.

Nao havia comida, fomos a outro lugar, também longe da festa, que varou a noite.  Desde jovem frequento todas as festas politicas de Brasilia. Desde as que faziamos contra a ditadura, as da trasição, as da era tucana. Agora, devo ficar longe. 

Amanhã começa outro tempo. Espero que, como Michele Bachelet, Dilma reserve um terço do ministerio para as mulheres. Nao porque sejam mulheres mas porque, tendo competência, poderão´também mostrar seu valor. A vitória foi dela mas agora deve dividi-la com as mulheres brasileiras, abrindo-lhes mais espaços na esfera publica.

TC

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Tristes miradas, também no Brasil, sobre a Argentina que chora

Leio na Télam (agencia pública de notícias argentina) a matéria " La triste mirada del diario The Wall Street Journal" :  o jornal americano publicou que, com a morte de Néstor Kirchner, os ativos e ações argentinos estavam se recuperando. Realmente, um glacial olhar de mercado sobre circunstâncias humanas. 

Aqui no Brasil também sobrou deselegância, para não dizer outra coisa, em relação ao país vizinho  e parceiro estratégico na morte de seu mais importante líder político contemporâneo. A  sub-manchete  desta quinta-feira, 28, do jornal O Estado de São Paulo foi: "Enfarte mata Néstor Kirchner, presidente "de fato" da  Argentina.   O Globo foi apenas mais sutil ao perguntar:  "E agora, Argentina?".

Ambos ofendem a presidente Cristina Kirchner, que nesta  hora de grande dor, com o velorio ainda em curso, é questionada como governante, é tratada como marionete do mariodo morto, cujo desaparecimento suscita  a pergunta de "O Globo".  "E agora, Argentina? " é uma forma de dizer:  Foram eleger uma mulher, como farão agora, com a morte do marido que "de fato" governava?   

Mulheres no poder, eis uma coisa que os conservadores não conseguem mesmo suportar. Cristina não é uma marionete, não é uma tonta. É inteligente e culta, tem luz política própria,  embora tivesse fina sintonia com Néstor Kirchner.   Agora ela é apenas uma mulher ferida e sua expressão dilacerada está comovendo o mundo.  Passado o luto, voltará a ser a presidente aguerrida,  não só para provar sua autonomia mas também para honrar o legado do marido.  O peronismo é uma força colossal na Argentina e a tragédia só tende a fortalecê-lo.

O jornal ameriocano e os dois jornais brasileiros poderiam ter evitado estas "tristes miradas" sobre uma Argentina que chora.

TC

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

A cada oito anos...

O domingo está chegando, teremos um novo governante eleito.

Dirijo a empresa de comunicação pública, que tem por dever o apartidarismo.

Não comento a campanha, a disputa, os candidatos.  Mantive distância absoluta, inclusive física, deste grande circo beligerante.  No domingo, na TV Brasil, farei análises à luz dos resultados. 

Mudança de governo é fato importantíssimo na vida das nações, e em nosso caso, depois da reeleição, destinado a acontecer somente a cada 8 anos.

TC.

A morte de Kirchner e a alma argentina

Quase não acreditei quando me ligaram de Buenos Aires contando que o ex-presidente Néstor Kirchner morrera. Mas era verdade, era preciso agir,  ter alguma reciprocidade com os colegas da agência Télam e da TV Pública argentinas.  
Passei a semana passada na Argentina, no III Congresso de Agências de Notícias, durante o qual assinamos o acordo latino-americano pela criação da Ulan, ainda mal compreendido. Conheci uma presidente Cristina bem diferente da que se mostra por aqui, comprovei a força do peronismo e a alta probabilidade de um retorno do ex-presidente ao Governo, sucedendo à mulher. Tudo isso muda, no quadro político. do país irmão. 

Mas neste momento, o que os argentinos sentem é uma grande tristeza pela perda de quem reergueu a Argentina, restaurando a  altivez que lhes é tão própria, e que o neoliberalismo quebrara.   Nesta hora, só podemos compreendê-los e desejar que  superem este transe, como fizeram em outros momentos históricos.  Que a presidenta Cristina seja maior que sua dor para bem concluir seu mandato, tão significativo dentro e fora da Argentina.

Compartilho com os leitores o artigo abaixo, do vice-presidente da Télam, Sergio Fernández Novoa, um grande jornalista e homem publico argentino.

Néstor Kirchner puso a la Argentina de pie
por Sergio Fernández Novoa

“Su muerte me desgarra el alma porque era uno de los nuestros, quizás el mejor”, escribió Juan Domingo Perón el 24 de octubre de 1967 ante el asesinato de Ernesto Che Guevara. Y esas mismas palabras pueden repetirse hoy ante la pérdida irreparable que significa la muerte de Néstor Kirchner. Expresan el dolor que sentimos todos aquellos que luchamos por el bienestar de nuestro Pueblo, por una Patria Justa, Libre y Soberana. Lucha que tendrá, a partir de ahora, nuestros esfuerzos redoblados en el acompañamiento al proyecto nacional y popular que encabeza nuestra presidenta Cristina Fernández.

Kirchner fue la expresión de un Pueblo cansado de la injusticia, decepcionado por la falta de respuesta de una democracia por la que tanto bregó. Un emergente de la rebelión popular que los días 20 y 21 de diciembre de 2001 ganó las calles para profundizar la democracia y no para derribarla.

A partir del 25 mayo de 2003, día en que Néstor Kirchner asumió la Presidencia de la República, la Argentina se puso de pie. La economía se recuperó. El trabajo fue el motor de la nueva  etapa. Los trabajadores recuperaron paulatinamente sus ingresos y la democracia se fortaleció de la mano de las paritarias y los convenios colectivos de trabajo. Con ellos, comenzó a recuperarse el consumo, la producción y la perspectiva de una vida mejor.

También se recuperó soberanía. El Fondo Monetario Internacional dejó de dictar la política económica. La deuda externa de ser la piedra en el cuello que nos impedía respirar. Argentina volvió a mirar a su Pueblo, a sus hermanos de América Latina, a dejar atrás las oprobiosas relaciones carnales. La Unasur, de la que fue Secretario General hasta su muerte, fue la mayor expresión de unidad y emancipación de los pueblos liberados por San Martín, Bolívar y los patriotas de la patria grande.  

La Justicia, con mayúsculas, también fue un pilar de la reconstrucción nacional. El juicio y castigo a los responsables del terrorismo de Estado dejó la retórica para hacerse realidad. No hubo impunidad, tampoco discrecionalidad. La renovación de la Corte Suprema de Justicia fue mucho más que la demostración de la independencia de poderes. Significa una garantía para todos los argentinos, incluso para quienes nos negaron durante años las garantías más elementales.

Néstor Kirchner puso a la Argentina de pie. Y eligió hacerlo con el Pueblo, desde las necesidades y aspiraciones de los más humildes. Esto le costó mucho. El ataque de las corporaciones, a quienes enfrentó. La injuria de los grupos mediáticos, de los dueños de los agronegocios, con quienes se plantó de igual a igual.

Sabía que ponía en riesgo su salud, sin embargo eligió seguir la lucha porque por sobre todas las cosas era un enorme militante. Y quiso el destinto que su gélida y entrañable tierra santacruceña fuera el lugar de su último latido.

Quedó claro que no dejó sus convicciones en la puerta de la Casa Rosada cuando le tocó presidir los destinos de la Patria. Néstor Kirchner inició el camino que hoy sigue su compañera y Presidenta Cristina. El camino que todos aquellos que abrazamos la causa por la justicia social, la independencia económica y la soberanía política tenemos la obligación de continuar.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Vejam se é possível!

Como contei ontem, durante o III Congresso de Agencias de Noticias, na semana passada na Argentina, assinamos uma carta de intenções para a futura criação da União Latino-americana de Agencias de Noticias, a Ulan. Assinei pela EBC, mantenedora da Agencia Brasil. Noss agência públcia é pequena mas cumpre um importante papel: oferece gratuitamente conteudos jornalísticos de qualidade a midias de todo o pais, sobretudo as regionais;
Em outras regiões, inclusive na Europa, exitem associações de agências de noticias. As agências enfrentam dificuldades na era da Internet, precisam se apoiar para sobreviver. Este também é o objetivo das agências que assinaram a tal carta de intenções: trocar conteudos, sobretudo quando uma não está cobrindo um fato e a outra está. Por exemplo, agora no Chile. Algumas enviaram equipes, outras não. Poderemos ainda trocar experiências técnicas na área de multimidia e na área de capacitação profissional de jornalistas.
Mas sabem a pauta que me foi apresentada hoje por jornalistas brasileiras: a de que esta associação é mais uma medida dos governos da região para controlar a mídia e a liberdade de expressão.

Sinceramente, não sei mais o que responder a esta mistura de delírio com paranoia.

Imaginar que agências como a Brasil, a Telan e outras mais podem controlar as midias comerciais no continente é superestimar as primerias e depreciar a força das segundas.

TC.

sábado, 23 de outubro de 2010

Por que sumi

Uma semana sem postar nada. Imperdoável. Algumas queixas. Muito justas.

Vou dizer: passei a semana numa pesadíssima mas proveitosa agenda de trabalho na Argentina. O que fiz:

a) Reuniao com agencias de noticias de dez paises para criarmos uma agencia latino-americana de noticias. Assinamos o protocolo de intenções. Agora é trabalhar.

b) Visitei o presidente da TV Publica, o cineasta Tristán Bauer, homem inteligente e determinado. Estao implantando um sistema de operador de TV publica digital semelhante ao nosso.  Era preciso conversar sobre isso e sobre troca de conteudos.

c) Na 3a. feira à noite a presidente Cristina de Kirchner abriu o Congresso Mundial de Agencias de Noticias, que teve a agencia argentina Telam como anfitriã. Estavam todas lá, grandes e pequenas, publicas e privadas. Reuters, AFP, EFE, AP etc. Do Brasil, Agencia Brasil/EBC e Agencia Estado. No dia seguinte o Congresso transferiu-se para a belissima paisagem de Bariloche.  Falei no painel sobre produção multimidia, na 5a. feira e fui-me embora para BA, antes do final do Congresso. Problemas demais me esperando em Brasilia. Levantei-me às 3 da manha para pegar o voo das 5.30 e ainda poder trabalhar um pouquinho ontem.

Amanha escrevo mais sobre estes temas e posto algumas fotos do lago Nahuel Uapi.. Vou tentar.

TC

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Um bom casamento

Celebramos hoje,  no Rio, a assinatura do convênio que marca o ingresso da TV Brasil no programa Brazilian TV Producers, programa de exportação do audiovisual brasileiro, gerido pela ABPI-TV (Associação Brasileira dos Produtores Independentes para Televisão), com o apoio da Apex, SAV e BNDES.  Com isso, demos mais um passo para a internacionalização da TV Pública brasileira. Jogam pedras mas ela segue.  Bom para a televisão, bom para os produtores brasileiros. Agora, quando vão ao mercado internacional em busca de parcerias, financiadores e produtores, levam junto a garantia de tela da TV Pública. Melhores negócios, melhores conteúdos. Um bom casamento. De nossa parte, entreguei o projeto á dedicação e competência do cineasta Silvio Da-Rin.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Carta a Pedro Malan

Senhor ministro Pedro Malan,

               Guardo em meu baú de documentos pessoais, coligidos ao longo de 25  anos de jornalismo político,  algumas cartas suas, escritas do alto posto de Ministro de Estado da Fazenda, que o senhor ocupou por oito anos, e no qual prestou bons serviços ao Brasil.  Nunca achei que o senhor estivesse tentando cercear minha liberdade de expressão quando se dava ao trabalho de contestar minuciosa, enfática e frequentemente minhas  opiniões ou comentários na coluna Panorama Político de O Globo. Estas cartas foram sempre registradas na coluna, com o resumo do que diziam.   Hoje, se algum ministro começar a escrever cartas de contestação a  um colunista,  será chamado de autoritário e suas cartas serão tidas como libelos contra a liberdade de imprensa.
                Mas vejo que o ministro não me esqueceu, embora eu esteja recolhida às minhas tarefas, que são da esfera pública,  não da esfera política ou governamental, como o senhor erroneamente entende.  Escrevendo sobre o primeiro turno,  na edição do último dia 10, sexta-feira, do jornal O Estado de São Paulo, o senhor se refere à suposta busca de um pleito plebiscitário pelo presidente Lula, afirmando em seu artigo "Diálogo de Surdos?":

"Não é de hoje o desejo presidencial: "Lula quer uma campanha de comparação entre governos, um duelo com o tucano da vez. Se o PSDB quiser o mesmo... ganharão os eleitores e a cultura política do país." Assim escreveu Tereza Cruvinel, sempre muito bem informada sobre assuntos da seara petista, em sua coluna de janeiro de 2006. Não acredito que a "cultura política" do País e seus eleitores tenham muito a ganhar - ao contrário - com essa obsessão por concentrar o debate eleitoral de 2010 numa batalha de marqueteiros e militantes.

          Mas em 10 de Janeiro passado o senhor já dera provas de não me ter esquecido, exumando, não pela primeira vez, escritos meus do passado.  Seu artigo "Equilibrado delírio?", no mesmo jornal, começava reproduzindo o mesmo trecho, agora citado, de uma  coluna minha de 2006. Vejamos:

"Lula quer uma campanha de comparação entre governos, um duelo com o tucano da vez. Se o PSDB quiser o mesmo... ganharão os eleitores e a cultura política do País." Assim escreveu Teresa Cruvinel, sempre muito bem informada sobre assuntos da seara petista, em coluna de um janeiro de outro ano eleitoral - 2006 -, exatos quatro anos atrás.Trago de volta essa lembrança por três razões: primeiro, porque a jornalista ocupa hoje importante posição no esquema de comunicação oficial do atual governo. Segundo, porque essa tem sido e, ao que tudo indica, será a linha mestra da campanha do governo e de sua candidata à Presidência. Terceiro, porque, como escrevi à época, não acredito que a "cultura política do País" e seus eleitores tenham algo a ganhar - ao contrário - com uma obcecada tentativa de concentrar o debate eleitoral de 2010 numa batalha de marqueteiros e militantes brandindo estatísticas. ".

                  Tão frequentemente citada em seus artigos,  e com intenções que precem tão claras, tenho o dever de responder-lhe, ministro.   Faço-o aqui mesmo, neste democrático espaço da Internet,  evitando um infrutífero pedido de espaço ao jornal que publica seus artigos. Gostaria de dizer-lhe que: 

1. O ministro é homem inteligente demais para ficar  fazendo um "copiar e colar" de seus próprios artigos ou de velhas colunas de terceiros.

2. Seu gasto de chumbo comigo me lisongeia mas sou pássaro pequeno.

3. Não integro o "esquema de comunicação oficial do atual governo". Dirijo a EBC, empresa gestora da televisão pública, a TV Brasil.

4.  Vejo em sua exumação de escritos meus não uma implicância pessoal, que seria tola,  mas sua forma de combater e tentar desqualificar o Sstema Público de Comunicação gerido pela EBC.  Há quem finja não saber do que se trata. Ele está previsto no artigo 223 da Constituição e existe em toda democracia que se preze. O ministro, cidadão do mundo, cosmopolita,  sabe o que é uma  televisão pública. Sabe que ela existe para  oferecer a programação diferenciada, cultural, complementar. Aquilo que a outra, sendo um negócio, não pode oferecer.

5. Lembrando-se tanto de mim, convido o ex-ministro a frequentar  este blog, onde é a cidadã Tereza Cruvinel (com z, por favor)  que se manifesta, não a diretora-presidente da EBC. Embora aqui também eu observe, por coerencia,  as normas de isenção, apartidarismo e pluralismo que devem pautar os canais públicos.  Não sou uma coisa lá e outra aqui.

6. Por fim, ministro, posso ter criticado muitos aspectos de sua política econômica mas reconheço que o senhor serviu ao pais com espírito público.  Gostaria que também tivesse uma avaliação honesta de meu modesto mas correto trabalho profissional.

Sinceramente.
Tereza Cruvinel


domingo, 10 de outubro de 2010

Primeiro debate do segundo turno

Terminou há pouco o debate entre os candidatos a presidente na Band.

Não vi debate algum, no sentido estrito da palavra sobre a questão do aborto. E no entanto, há uma falsa polarização da campanha em torno do tema.

Vamos ser francos: milhares de mulheres abortam diariamente e muitas acabam precisando recorrer à rede pública de saúde. O SUS regulamentou o atendimento na gestão de Serra, segundo foi dito por Dilma e por ele confirmado.  Era preciso regulamentar mesmo. A pergunta é: diante de uma mulher que chega com hemorragia ao pronto-socorro, o médico faz o quê: atende-a ou chama o plantão policial para prendê-la?

Afora este dilema, o resto é oportunismo eleitoral. Nao tem ninguem propondo legalizar o aborto. Um projeto tramita há anos e nao será aprovado, se um dia chegar ao plenário da Câmara.

Sendo assim, por que estamos discutindo isso?

TC

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Vargas Llosa: Nobel merecido

O primeiro livro dele que eu li foi "Conversa na Catedral". De enfiada.  Muitas outras pessoas, como eu, nunca esqueceram o personagem que, volta e meia, perguntava: mas quando foi mesmo que o Peru se fodeu? Era na ditadura e queríamos esta resposta também para o Brasil.  Nunca tive a resposta mas, apesar de tantos romances dele que vieram depois, Conversa na Catedral continuou sendo, para mim, o melhor de gtodos. Na UnB, nos anos 70, eu era lider estudantil, convidamo-lo para uma palestra e ele foi. Apagaram as luzes mas ele falou assim mesmo. Decepcionei-me um pouco com algumas posições politicas que ele assumiu mas nunca com sua literatura, com sua clarividência, com sua defesa da democracia  Estes dias li uma entrevista dele ao Estadão e não parecia mesmo esperar pelo Nobel. Falou de dois livros novos que anotei para comprar. Um de artigos sobre questões politicas e outros temas - Sabres & Utopias. Outro, o novo romance,  "O sonho do celta", baseado na vida de Roger Casement,  diplomata inglês de origem irlandesa que deixou pegadas mundo afora. Gostei do modo nao-rancoroso com que ele se referiu a Gabriel Garcia Marquez, ex-amigo com quem rompeu, nesta entrevista a Laura Greenhalg.  Reconheceu sua grandeza e o merecimento do Nobel. Agora, os dois o têm, para orgulho dos latino-americanos que sempre gostamos de ambos.

Ao Senador Heráclito Fortes

Escreveu-me o Senador Heráclito Fortes, com quem tive a honra de conviver no Congresso por mais de duas décadas, desde quando ele chegou à Câmara como deputado, nos idos da Constitiuinte.  Protestava ele contra a inclusâo de seu nome entre os senadores que, tendo liderado a oposicâo e defendido o impeachment do presidente Lula, não se reelegeram e não voltarão ao Senado Federal.  Já corrigi o artigo Faces do Novo Congresso, abaixo, suprimindo esta referencia. De fato, Heraclito sempre buscou a saida conciliadora e construtiva para as crises politicas.  Em sua casa ocorreram reunioes com o então ministro Palocci, em busca de pontes, como diz o senador, para aquele momento de impasse e crise.

Aproveitei para dizer ao Senador que  não  desfruto hoje da convivencia de ninguem do mundo politico, nem da oposicao nem da situação. Exceto em circunstancias publicas casuais.  Eu  não integro o Governo, como ele diz.  A lei 11652/2008, que criou a EBC, estabelece que o sistema publico de comunicação,  que eu hoje dirijo,   não é subordinado ao Governo. Por isso a lei me garante um mandato, que me garante independencia em relação ao Governo.  Agora mesmo, se for eleito o candidato da oposição, eu continuaria no cargo de presidente da EBC,  até concluir o mandato de 4 anos.  Não posso ser demitida, exceto pelo Conselho Curador, que é verdadeiramente quem tem poder sobre a EBC, em nome da sociedade civil, e atua em defesa de uma programação diferenciada e de uma linha  editorial independente.


Achei oportuno dizer isso ao Senador e registrar aqui o seu protesto, realizando a correção.  TC

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Voltando a blogar

Tive um dos primeiros blogs da Internet, quando O Globo investiu em sua página eletrônica OnLine e estimulou seus colunistas a manter blogs. Aderi logo. Gostava, embora desse trabalho, pois fazia coluna e comentários na Globonews. "Para quem gosta de política, para quem detesta política", era o bordão do blog. Fui feliz e infelz ali. O blog tinha muitos "seguidores", como diríamos hoje e ali eu podia escrever coisas que fugiam ao dia a dia da política. Arriscava crônicas, poemas, memórias, qualquer coisa que me desse prazer. Mas, a partir de 2005,  houve o envenenamento da politica brasileira, que contaminou a Internet. Muita gente raivosa passou a frequentar o blog. Patrulhas ativas e agressivas.  Pessoas conhecidas, colegas de profissão, politicos, qualquer um poderia atacar um atacar a honra de um jornalista com 30 anos de estradada e credibilidade, escondendo-se sob um pseudônomo. Valia tudo:  calúnias, ofensas, difamações.  Bem, isso acontece até hoje mas eu fiquei muito chocada,  na época. Descobri gente conhecida me atacando de forma covarde.
Depois, saí de O Globo para presidir a EBC-TV Brasil e afastei-me do circuito Web. Única razão, muito trabalho. Nao é fácil criar a TV Pública. Há algum tempo criei uma conta no Twitter mas não achei graça em escrever apenas 140 caracteres. Sou caudalosa e minha relação com as palavras é profícua. Por isso criei este blog, um presente para minha pessoa física, que anda muito asfixiada.
Aqui vou escrever,como fazia no outro blog, sobre o que bem entender.Vou escrever sobre política, minha especialidade, mas muito mais sobre outros temas.  Tema livre,  é como batizei o espaço. Espero reencontrar, com o tempo, alguns dos muitos leitores que tinha na página antiga.  Aqui, hoje pela manhã, comecei com um teste, postando a matéria sobre o novo Congresso que fiz para a Agência Brasil, um dos canais de comunicação pública da EBC.   Já entendi a ferramenta e agora voltarei a blogar. Estava com saudade. Será bom reencontrar cada um que por aqui passar.TC

O novo Congresso



Faces do Novo Congresso

Tereza Cruvinel
Especial para Agência Brasil


  • Senado mais conciliador e mais alinhado com o atual Governo

  • Câmara tem baixa renovação e perde grandes nomes




Tereza Cruvinel


Muitas são as novas configurações do Congresso Nacional que saiu das urnas de domingo, dia 3, e que terão impacto sobre a vida política nacional a partir do ano que vem, qualquer que seja o resultado do segundo turno presidencial. As novas bancadas sugerem um Congresso mais conciliador e menos beligerante que o atual, independentemente da hegemonia conquistada pelos partidos alinhados com o atual Governo e integrantes da coalização que apóia Dilma Roussef. Saem os radicais e entram forças mais moderados, mesmo na oposição. No Senado, agora serão três os ex-presidentes da República com mandato

As urnas mantiveram o PMDB como maior partido no Senado e trouxeram o PT com a maior bancada na Câmara, sugerindo que cada um dos partidos polares da aliança dilmista ficará com a presidência de uma das Casas. A solução atual, em que o PMDB ocupa os dois cargos, não deve ser aceita pelo PT nem está de acordo com a tradição parlamentar, que reserva a presidência ao maior partido de cada Casa.

A Câmara passou por uma renovação menor que a média das últimas eleições. Nos cálculos do Diap – Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar, a renovação ficou em 44,25%: 286 deputados não se reelegeram e 227 serão novos na Casa. O diretor da instituição, Antonio Augusto de Queirós , lembra a taxa de renovação das últimas eleições:


ANO DO PLEITO

TAXA DE RENOVAÇÃO - %

1990
62,0
1994
54,0
1998
43,0
2002
46,0
2006
47,0
2010
44,25


Na Câmara, os partidos que mais cresceram foram os da atual base governista, capitaneados por PMDB e PT. Eles tinham juntos 357 dos 513 deputados e somarão 372 na próxima legislatura. Vale dizer que, teoricamente, o atual Governo contava com 69,5% da Câmara e que, se eleita, Dilma Roussef contará 72,5%. Mais importante: se for presidente, contará com a maioria qualificada de 3/5 para aprovar mudanças constitucionais. Já no Senado, a base governista, teoricamente, controlava 59% das cadeiras. Este mesmo bloco corresponderá, no novo Congresso, a 72% da Casa, o que garantiria a um eventual Governo Dilma uma situação folgada também no Senado, inclusive para aprovar emendas constitucionais. Diferentemente de Lula, que teve sempre no Senado uma maioria apertada, que não foi capaz de garantir a aprovação da emenda que prorrogava a CPMF. Já se o presidente for José Serra, ele terá de negociar permanentemente a maioria parlamentar nas duas Casas com os partidos periféricos, visto que o bloco oposicionsita, liderado por PSDB e DEM, terá nas duas casas cerca de 27% das cadeiras.

Novos atores

É preciso apontar, entretanto, as mudanças qualitativas que marcarão o novo Congresso, para o bem e para o mal, mesmo com uma renovação relativamente baixa. Estas são mudanças relacionadas com a natureza dos eleitos, com a chegada de novos atores e não com a aritmética partidária.

O Senado, por exemplo, foi até aqui o inferno de Lula. Se o atual bloco no poder continuar governando, a situação será melhor não apenas aritmeticamente. Não estarão no Senado políticos de índole mais combativa como Tarso Jereissati, Arthur Virgílio e Heráclito Fortes. José Agripino Maia, do DEM, voltará, mas já na campanha fez uma aliança com aliados peemedebistas do atual Governo no Rio Grande do Norte para se eleger. O Senado perdeu ainda um grande nome como Marco Maciel, que está mais para conciliador do que para guerreiro. Afora isso, entretanto, o Senado novo não parece ter perdido qualidade. Entre os novos, há muitos quadros qualificados, nos dois pólos do espectro político.

Já a nova Câmara perdeu nomes importantes, alguns porque não quiseram concorrer a novo mandato, como o secretário-geral do PT, José Eduardo Cardozo e Ciro Gomes, do PSB, outros porque foram derrotados, como José Genoino e Antonio Carlos Biscaia, ambos do PT. Não se elegeram ainda tucanos de alta plumagem como Arnaldo Madeira, João Almeida, atual líder, e Antonio Carlos Pannuzio. Antonio Palocci também não voltará porque não concorreu, optando por coordenar a campanha de Dilma Rousseff.

Em compensação, poderá existir um deputado como Tiririca e outros tantos neófitos que resolveram se aventurar na política, afora aqueles que estão com a eleição vinculada à decisão sobre a validade da Lei da Ficha Limpa, como o velho e conhecido Paulo Maluf.
Mas para conhecer mesmo um novo Parlamento, só esperando pelo início de seu funcionamento.