sexta-feira, 19 de novembro de 2010

As cicatrizes de Dilma e a banalização das memórias da tortura

Não tenho escrito aqui, por absoluta falta de tempo. As madrugadas também viraram expediente neste final de ano, com tanto a fazer na EBC. Mal tenho acompanhado a cobertura política da transição mas não poderia deixar de comentar o noticiário sobre os arquivos da ditadura relacionados com a prisão, tortura e processo judicial enfrentados pela hoje presidenta Dilma.

Vi de relance, pela TV,  que ela estava muito emocionada na reuniao do Diretório Nacional do PT. Parece que chorou. Acho que ela tem vivido emoções fortes mas estava abalado porque mexeram em suas cicatrizes. 

Em nome da liberdade de imprensa, ainda serão feitas muitas revelações sobre a atuação de Dilma na resistência á ditadura.  Em nome da liberdade de imprensa, deveriam ensinar também aos mais jovens o que foi a ditadura, quem apoiou o regime e quem o combateu, quem resistiu ao arbítrio e quem lutou pela liberdade. Isso, sim,  seria construtivo, fortaleceria o apreço pela democracia brasileira.

Os mais jovens ficarão sabendo apenas que Dilma militou num certo grupo chamado Colina e numa organização denominada Var-Palmares, gerada pela fusão do Colina com a VPR (Vanguarda Popular Revolucionária).  Para entender isso, seria preciso recordar o contexto criado pela repressão, que destruindo a democracia,  não deixou a uma geração de jovens brasileiros nenhuma outra saída.

Trinta anos depois, divulga-se apenas  que ela teria "assessorado" assaltos a bancos e ações armadas, e que sob tortura,  teria mencionado nomes de companheiros, locais de "pontos" (encontros) e de aparelhos (residencias clandestinas).  As matérias publicadas sugerem, de forma evasiva, que Dilma foi  "delatora". Ela foi presa em16 de janeiro de 1970, sofrendo  torturas e sevícias brutais nos 22 dias subsequentes, com uso de choques e pau-de-arara. Contou isso em maio,  ao ser ouvida pela Justiça Militar.

Mas quem Dilma teria delatado? Nenhum dos militantes que ela teria mencionado no depoimento obtido sob tortura "caiu" logo depois de sua prisão.  Dilma "mentiu muito", e é isso mesmo que um militante de valor precisava fazer ao enfrentar o tormento da tortura:  Jogar com o tempo e com as informações de que dispunha,  calculando cada minuto na disputa temporal com o torturador, uma disputa que podia significar a vida ou a morte. A própria e a dos companheiros.  Se Dilma falou no ex-marido Claudio Galeno, como está no depoimento, sabia que ele já estava longe, no exílio. Carlos Alberto Soares Freitas foi preso e desapareceram com ele, mas isso ocorreu em 1970, um ano depois.   Os demais já haviam "caído": Helvecio Raton, Erwin Resende Duarte, Reinaldo José de Melo, Angelo Pesuti, Murilo Pesuti, José Raimundo Nahas e Maria José Nahas.  Falar em quem já estava preso ou no exílio, bem como "entregar" aparelhos que já haviam "caído" era uma tática para ganhar tempo e quem sabe algum alívio,  embora a ira dos torturadores voltasse redobrada quando descobriam ter perdido tempo com informações furadas.

Em maio de 2008, Dilma falava ao Senado como ministra quando o senador Agripino Maia recordou ter ela dito numa entrevista que, durante a tortura, teria "mentido muito".  Não iria ela mentir também aos senadores, disse Agripino, tocando nas cicatrizes de Dilma.  Ferida, ela tornou-se uma leoa e seu discurso fez Agripino encolher-se.   Veja um trecho:

"Não é possível supor que se dialogue com pau de arara ou choque elétrico. Qualquer comparação entre a ditadura militar e a democracia brasileira só pode partir de quem não dá valor à democracia brasileira - disse Dilma, que emocionou a plateia que a ouvia na ocasião. - Eu tinha 19 anos. Fiquei três anos na cadeia. E fui barbaramente torturada, senador. Qualquer pessoa que ousar dizer a verdade para interrogador compromete a vida dos seus iguais. Entrega pessoas para serem mortas. Eu me orgulho muito de ter mentido, senador. Porque mentir na tortura não é fácil. Na democracia se fala a verdade. Na tortura, quem tem coragem e dignidade fala mentira. E isso, senador, faz parte e integra a minha biografia, de que tenho imenso orgulho. ".

Veja também o video desta cena, uma das primeiras, no Governo Lula, em que Dilma se destacou como ser político e não como técnica:  http://www.youtube.com/watch?v=7r3nVbYa138

Dilma é presidenta hoje, é natural que se queira saber de sua vida passada.  O país tem direito a estas informações mas devia ter direito  também às histórias completas da ditadura.

Em relação á tortura, deveríamos todos evitar a banalização, não só em relação a Dilma , mas a todos aqueles que a sofreram, lutando para que hoje tivéssemos uma democracia, estejam eles agora  no PT ou em outros partidos.

TC

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Da India Paraguaçú à presidenta Dilma Rousseff

(Artigo publico no Correio Braziliense - 06.11.



Corria o ano de 1510 quando Diogo Álvares Correa naufragou na Pedra da Concha, enseada da Mariquita, hoje Bairro do Rio Vermelho, em Salvador. Deus uns tiros, virou Caramaru: o homem do fogo, para os índios. Ia ser devorado. Foi salvo pela índia Paraguaçu, que dele se engraçou. Tiveram muitos filhos, dando origem ao povo brasileiro. Casaram-se com a bênção da Igreja e nas terras de França ela virou Catarina. Mas ele dormia também com Moema, irmã de Paraguaçu, e tiveram Madalena Caramarú, a primeira mulher brasileira que aprendeu a ler e a escrever.

Depois vieram outras, algumas analfabetas, outras letradas: Quitéria, Joana, Isabel, Chiquinha, Berta, Cora, Pagú ou Carlota. Ana, Dulce, Raquel, Clarice, Cristina, Ruth, Benedita, Roseana, Marta, Rita, tantas e tantas outras...
É preciso invocá-las, ainda que para não dizer nada, nesta hora em que nenhum outro tema sobrepõe-se a fato inédito, a eleição de uma mulher brasileira para a Presidência da República. Dilma Rousseff é parte dessa lenta mas contínua caminhada das filhas de Paraguaçu, em sintonia com as mulheres do mundo, para vencer a sujeição e a exclusão do segundo sexo.

Numa campanha acirrada, que em alguns momentos transpirou ódio e rancor, e na qual alguns temas entraram pela porta dos fundos do oportunismo eleitoral, como foi o caso do aborto, Dilma e Marina foram quase como dois homens no primeiro turno. No segundo, acuada pela campanha insidiosa que a vinculava ao aborto e ao casamento entre gays, Dilma pouco falou de mulheres. Mas começou o discurso da vitória prometendo honrar as mulheres brasileiras para que, no futuro, seu feito se transforme num fato natural.

Mas, representando 52% do eleitorado, estamos longe ainda da equidade na ocupação da esfera de poder na sociedade brasileira. Agora foram eleitas 45 deputadas. Vale dizer, não conquistamos uma só cadeira a mais. Ficanos nos 8,7% da Casa, um dos mais baixos índices do mundo. No Senado, as mulheres hoje são 10, o que representa 12% da casa. Na próxima legislatura serão 12. Quase nada de avanço.

Até agora, nenhuma mulher foi eleita para a Presidência da Câmara e do Senado mas, em 2006, a ministra Ellen Gracie quebrou o tabu no Poder Judiciário, elegendo-se para a Presidência da mais alta Corte do país, o STF.
Antes da eleição de Dilma no Brasil, dez mulheres foram eleitas no mundo para o mesmo cargo. Já foram eleitas seis mulheres sul-americanas, destacando-se entre elas as vizinhas Michelle Bachelet, do Chile, e Cristina Kirchner, da Argentina. A África também já elegeu Ellen Johnson-Sirleaf, na Libéria, e a Ásia, Glória Arroyo, nas Filipinas. A Europa, além de presidentes, teve também mulheres chefiando governos em sistemas parlamentaristas, como a primeira-ministra inglesa Margareth Tatcher e a atual chanceler alemã, Angela Merckel. Mas natural, isso ainda não é, no mundo todo.

Aqui, desde Paraguaçu, as mulheres avançam palmo a palmo. Há apenas 78 anos conquistamos o direito ao voto, pelo esforço de algumas e a graça de Getúlio Vargas, após a Revolução de 30. Antes, o direito era restrito às casadas, com autorização do marido, e às viúvas e solteiras com determinada renda. A constituinte de 1946 tornou o voto feminino obrigatório, tal como o dos homens. Em 1932, elegemos Carlota Pereira de Queirós como primeira deputada, mas a primeira senadora, Munice Michiles, só seria eleita décadas depois, em 1980. Em 1982 a paulista Esther Ferraz torna-se a primeira ministra de Estado, nomeada pelo presidente Figueiredo para a pasta da Educação. Doze anos depois, em 1994, Roseana Sarney torna-se a primeira governadora de estado, eleita no Maranhão.

A constituinte de 1988 assegurou a plena igualdade de gêneros e, logo depois, foi aprovada a lei das cotas, reservando inicialmente 20% e, a partir de 1997, 30% das candidaturas proporcionais para mulheres. Apesar delas, o alto custo das campanhas e outros vícios do sistema impediram avanços maiores.

Dilma prometeu honrar as mulheres e comprometeu-se com a reforma política. Os dois compromissos levam a uma reforma que adote o voto em lista, com alternância entre homens e mulheres, e o financiamento público exclusivo de campanhas. Os dois pontos já mudariam muito o cenário. Falta ver também que participação terão as mulheres em seu ministério. Bachelet indicou mulheres para um terço dos ministérios. Não precisou indicar desqualificadas e incompetentes.

(Tereza /Cruvinel, jornalista, diretora-presidente da Empresa Brasil de Comunicação)

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Perfil de Dilma

Este perfil saiu na Agencia Brasil no dia da eleição. Como agora estou reunindo tudo o que escrevo neste espaço, reproduzo aqui.  Mudei o titulo.  TC.

 

Dilma - Muitas vidas, muitos nomes

31/10/2010 22:24
Tereza Cruvinel
Especial para a Agência Brasil

Brasília – Dilma Vana Rousseff já teve muitas vidas, muitos nomes e muitos projetos de vida. O que ela nunca imaginou é que seria a primeira mulher brasileira a conquistar, pelo voto, o mais alto cargo da República, até agora ocupado só por homens. Ela foi eleita presidente com 55,5 milhões de votos, correspondentes a 56,01% dos votos válidos, derrotando José Serra, do PSDB, que teve 43,606 milhões de votos, ou 43,99% do total de votos validos (com 99,56% das urnas apuradas).
Muita gente, dentro e fora do governo, também achava que isso seria impossível: embora a política tenha marcado toda a sua vida, Dilma nunca havia disputado antes uma eleição.
“Dilma não tem jogo de cintura eleitoral”, “Dilma é durona e carrancuda”, “Dilma é uma técnica sem carisma”. “Dilma não tem trânsito entre os partidos e os políticos”. Tudo isso e muito mais foi dito sobre a então ministra-chefe da Casa Civil, quando, ainda em 2008, começou a circular a notícia de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pensava nela como candidata a sua sucessão.
No segundo mandato, a aprovação do governo e a popularidade do presidente Lula alcançaram índices inéditos, e isso foi possível porque, depois de ajustar as contas públicas no primeiro mandato, a política econômica, combinada com a política de distribuição de renda e os programas sociais começou a produzir excelentes resultados: a economia crescia, gerava mais empregos, a renda dos mais pobres aumentava, a desigualdade diminuía, o país se tornava melhor internamente e mais respeitado lá fora. Na era Lula, cerca de 28 milhões de pessoas deixaram a pobreza extrema e ascenderam socialmente.
Mas esse paraíso político foi precedido de um inferno zodiacal. No primeiro mandato esses resultados ainda não haviam aparecido. Além de ter feito um ajuste fiscal necessário, mas que atrasou a retomada do crescimento, o governo enfrentou escândalos que minaram a popularidade de Lula e do PT.
Os nomes fortes do partido, que poderiam ter sido alternativas sucessórias para 2011, foram todos queimados nas crises do primeiro mandato. José Dirceu, ex-chefe da Casa Civil, foi cassado no escândalo do mensalão, e o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci foi alvejado pela quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo.
Na substituição de Dirceu, Lula surpreendeu a todos ao descartar quadros políticos do PT e dos partidos aliados e convidar Dilma, então ministra de Minas e Energia, de perfil eminentemente técnico. Lula pediu-lhe um choque de gestão na Casa Civil e uma atuação mais gerencial e menos política. Era exatamente o que ela sabia fazer.
Mas esta não foi a primeira vez que Lula surpreendeu com o nome de Dilma.  Ele a conhecera no Rio Grande do Sul, como secretária de Minas e Energia do governo do petista Olívio Dutra. Na montagem do primeiro ministério, em 2002, ele desautorizou um acordo já fechado por seu coordenador político José Dirceu com o PMDB e entregou a ela a pasta de Minas e Energia.
        
Ali, Dilma trabalhou duro para evitar um novo apagão elétrico, como o que houvera no governo de Fernando Henrique, desenvolveu o Programa Luz para Todos, planejou a construção de novas hidrelétricas e a diversificação da matriz energética brasileira. Essa dinâmica é que Lula queria na Casa Civil. E Dilma não o decepcionou. Passou a coordenar as ações de todo o governo e ganhou fama de durona.
“Até  parece  que vivemos cercadas por homens meigos e delicados”, ironizou Dilma na época.
A ministra havia brigado pela redução do superávit fiscal para que sobrassem mais recursos para investimentos em obras de infraestrutura, que criam as bases para o crescimento de longo prazo, aquecem a economia e geram empregos. No final do primeiro mandato, já havia dinheiro para isso e ela elaborou o Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), pedido por Lula. O programa foi lançado em janeiro de 2007, nos primeiros dias do segundo mandato.
O PAC previa investimentos de R$ 500 bilhões em quatro anos, em grandes obras de infraestrutura, como portos, ferrovias e hidrelétricas, gastos com obras em  favelas e o financiamento habitacional maciço, como o programa Minha Casa, Minha Vida.
Foi na inauguração de obras de saneamento e habitação numa favela do Rio de Janeiro, o Complexo do Alemão, no dia 7 de março de 2008, que Lula começou a escolher sua sucessora.  "A Dilma é uma espécie de mãe do PAC. É ela que cobra, junto com o Marcio Fortes [ministro das Cidades], se as obras estão andando. e agora vocês também vão ver o que é ser cobrado pela Dilma."
Em recente entrevista à TV Brasil Internacional, Lula nos contou, no intervalo da gravação, que naquele dia começou a amadurecer a ideia de que Dilma poderia ser a candidata que ele não tinha para a sucessão que se aproximava. A oposição tinha dois nomes fortes, Aécio Neves e José Serra, ambos já provados nas urnas. Dilma não tinha experiência eleitoral, mas representava uma novidade. Era mulher, pensava o presidente. Se conseguisse transferir para ela uma parte de sua imensa popularidade, poderia elegê-la.
Ela se supreendeu com a confidência, mas não recusou a ideia. Dilma sabia de todas as dificuldades que seu nome enfrentaria, inclusive dentro do PT. Lula tratou disso com os dirigentes do partido. Dilma não era mesmo um quadro histórico, mas o partido também não tinha outro nome. Quem tinha a força era Lula e sua indicação foi prontamente aceita. O PT a escolheu oficialmente em fevereiro deste ano. Dilma deixou o governo, juntamente com dez ministros, em 31 de março para enfrentar a aventura eleitoral.
Muitos nomes, muitas Dilmas
Mas quem é esta mulher que, tendo pensando em ser bombeira ou trapezista, tendo enfrentado a prisão e a tortura por causa de suas ideias políticas, mas nunca tendo disputado uma eleição, torna-se a primeira presidente  do Brasil?
Embora não tivesse mesmo disputado qualquer eleição antes, a política sempre foi o motor da vida de Dilma. Sua atuação começou no movimento estudantil, no segundo grau e depois na universidade, combatendo a ditadura militar. A militância a levará para a clandestinidade e para a prisão. Enfrentará a tortura nos porões do Dops (Departamento de Ordem Política e Social) e três anos de reclusão no Presídio Tiradentes.
Tudo começou em Belo Horizonte, onde ela nasceu em 14 de dezembro de 1947. Seu pai, Pedro Rousseff, foi um imigrante búlgaro. Chegou ao Brasil nos anos 30, casou-se com uma professora chamada Dilma e tiveram três filhos, formando uma típica família de classe média.
Dilma, a mais velha, estudou primeiro num colégio de freiras tradicional, o Sion, onde tomou gosto pelos livros, principalmente os de literatura. Há pouco tempo, ficou sabendo que só ela e mais três colegas do Sion seguiram carreiras profissionais. As outras  tornaram-se donas de casa, como era o costume.
No ano de 1964, em que os militares derrubaram o presidente João Goulart, dando início à ditadura, Dilma entrou para o Colégio Estadual Central, foco da agitação estudantil secundarista da capital mineira. Três anos depois passa no vestibular para economia, na UFMG, e ingressa na organização esquerdista Polop, tornando-se uma líder estudantil importante, culta e combativa.
Nesse tempo aconteceram coisas importantes na vida de Dilma. Conquistou amigos que tem até hoje, como o ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel, e o hoje deputado José Aníbal, do PSDB. Namorou com Cláudio Galeno e com ele teve um casamento que durou pouco. A vida agitada e o mergulho que foi obrigada a dar na clandestinidade não ajudaram.
Nessa época, a  Polop se transforma em Colina – Comando de Libertação Nacional, que irá se fundir com a Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), formando a VAR-Palmares.   A VAR-Palmares fez algumas ações armadas contra a ditadura, mas Dilma, que atuava em estratégia e planejamento, não participou de nenhuma delas. Na campanha, entretanto, essa passagem de sua vida foi muito explorada.
Na clandestinidade, como mandavam os manuais de segurança, Dilma usou vários codinomes. Chamou-se Luiza, Wanda, Marina, Estela, Maria e Lúcia. Separa-se de Galeno, que  vai para o exílio, e conhece Carlos Franklin de Araújo, que vem a ser seu segundo marido e pai de sua filha Paula.
Em 1970  Dilma é presa e brutalmente torturada durante várias semanas. Depois é condenada a três anos de reclusão, tempo em que passou sobretudo no Presídio Tiradentes, onde o marido Carlos Araújo também cumpria pena em outra ala.Três anos depois, após serem libertados, constroem uma vida juntos no Rio Grande do Sul, onde nasce Paula, que no final  do primeiro turno, dará a Dilma seu primeiro neto, Gabriel.
Em Porto Alegre, já em liberdade, Dilma consegue terminar o curso de economia e a seguir cursa o mestrado. Atua, com o marido, nos movimentos pela anistia e pela redemocratização. Ajudam a fundar no estado  o PDT de Leonel Brizola.
Em 1986, o pedetista Alceu Collares elege-se prefeito de Porto Alegre e convida Dilma para ocupar a Secretaria Municipal de Fazenda. Collares elege-se governador em 1990 e ela se torna secretária estadual de Minas, Energia e Comunicação.

O governo de Collares era fruto de uma aliança entre o PDT e o PT, que se romperá em 1994. Dilma faz então a opção pelo PT, filiando-se ao partido.   Outra aliança que se rompe nessa época é a matrimonial. Separa-se do marido Carlos Araújo, embora preservem grande amizade e cumplicidade até hoje.
Foi como secretária de Minas e Energia que Dilma conheceu Lula e despertou seu interesse, valendo-lhe, mais tarde, a nomeação para a pasta de  Minas e Energia.
Um câncer no caminho
A caminhada para a Presidência não foi fácil. Com a candidatura já definida por Lula e aceita pelo PT, Dilma descobre, no inicio de 2009, que tinha um câncer linfático. O anúncio da doença, no dia 25 de abril, foi uma decisão corajosa.
No primeiro momento, a candidatura foi dada como inviável. Ela poderia não vencer a doença e, mesmo que vencesse, o eleitorado poderia rejeitar seu nome, temendo o pior. Os médicos garantem chances de cura superiores a 90%. Dilma faz sessões de quimioterapia, perde o cabelo e usa peruca por uns tempos, sem interromper a rotina de trabalho na Casa Civil. No final do ano, os médicos a declaram curada.
No final de 2009, a sua saúde vai bem e a popularidade do presidente, melhor ainda. Dilma volta a um hospital, mas agora para cuidar da imagem. O conselho fora de Lula. Ela faz uma plástica e reaparece em público, em 2010, com a fisionomia mais jovem e descansada. Está começando a batalha eleitoral.
 Mas ela começa em desvantagem. Em fevereiro deste ano, tinha uma média de 28% de preferência e José Serra, do PSDB, sempre mais de 40%. O primeiro empate acontece em maio deste ano, mas surge um fator inesperado, o crescimento da candidatura de Marina Silva, que trocara o PT pelo PV.
A campanha começa para valer em agosto e o presidente Lula entra em campo, garantindo a transferência  de votos de que muita gente duvidava. Em 15 de maio deste ano, o instituto Vox Populi divulga a primeira pesquisa em que Dilma, com 38%, ultrapassa José Serra, com 35%.
Diferentes institutos apontam a vitória de Dilma no primeiro turno de 3 de outubro por mais de 50% dos votos, mas ela obtém apenas 47% dos votos. Os analistas apontam duas causas para o segundo turno. O crescimento da candidata Marina Silva, do PV, e uma forte onda de boatos, inclusive pela internet, acusando Dilma de ser a favor do aborto e do casamento entre homossexuais. Ela perde milhões de eleitores entre católicos e evangélicos.
No segundo turno, a campanha é agressiva, os candidatos sobem o tom nos debates e o presidente Lula volta à arena eleitoral. Mas desta vez ela alcança a maioria necessária e torna-se a primeira presidente eleita do Brasil.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Fazendo diferença

Coitado do blog, meio abandonado. Voces entendem, é duro para ele concorrer com uma televisão.
E fizemos coisas excelentes na TV Publica, estes dias.
Uma transmissão ao vivo elogiadíssima, na apuração. Um belo programa Brasilianas, do qual participei a convite do Nassif. Uma boa entrevista com a presidenta eleita. Todos fizeram mas a nossa de uma pauta importante para toda a midia. E hoje, um belo programa 3 a 1 como  presidente do PT, Jose Eduardo Dutra.

Então vou me permitir ser cabotina, postando alguns dos elogios e comentários que colhemos no Twitter. Sabe por que? Por que é duro trabalhar com seriedade, independencia e espírito público, acreditando na pluralidade contra o discurso único, e ouvir o tempo todo (ou ler)  bobagens como "TV do Lula" e "TV Traço".  Chega disso.  Voces entendem, o apedrejamento já durou muito.

filiitemporis: acompanhem a qualificada cobertura da http://www.tvbrasil.org.br/webtv/
Joao_Paulo_Neri: @eduacastro Parabéns a @tvbrasil pela cobertura esplendorosa das eleições 2010!
cathala: Impecável a cobertura da TVBrasil. Parabéns a todos os envolvidos
SelmaPaschoal: Ótima reportagem agora na TVBRASIL!
nunescfreitas: A MINHA TV NÃO SINTONIZA CANAL GLOBAL DE JEITO NENHUM, AINDA BEM NÉ! ESTOU NA RECORD, NA TVBRASIL, ETC
coredump: RT @cathala: Levandowski vai jogar a pá de cal no Serra agora, ao vivo, na TVBrasil
fdagomes: Ótima a cobertura da apuração na TV Brasil. Estou vendo pela web: http://www.tvbrasil.org.br/webtv/
AdeSchneider: RT @tvufg: A TV UFG é uma delas:Participam transmissao @TVBrasil 22emissoras rede publica TV nos estados canal NBR TV Brasil Internacional.
flaviocpontes: A cobertura da TVBrasil está muito boa. Bem didática a análise dos números.
monicalika: Via @TVBrasil ... Análise dos primeiros números das urnas em www.tvbrasil.org.br/webtv
Naracz: Vou ficar vendo a TVBrasil que tá com uma apuração melhor.
kaduonline69: Cobertura da @TVBrasil está perfeita.
bernardolucaspt: @TVBRasil Excelente cobertura da TV Brasil, Macário dando um show de numeros apurados.
Lucaskq: TV Brasil dando tudo na frente. Impressionante: www.tvbrasil.org.br/webtv
marciomoneta: Acompanhando apuração pela @TVBrasil! #DILMAday #13NELES #13NELAS
monicalika: Acompanhando a Apuração pela TVBRASIL#
lilianereis: Orgulhosa da cobertura das eleições pela @TVBrasil
AnnushkaBR: GloboNews não sabe disfarçar que já sabem da perda... fracos! Tom de velório!!kkk TVBrasil faz melhor! #13neles #dilmaday
gutocarvalho: @nunescintia acompanhe pela TV Brasil na WEB está bem tranquilo e informativo http://www.tvbrasil.org.br/webtv/
Evanduartes: Dilmistas, parem de reclamar da globonews. Ha outros canais, como a @bandjornalismo e a @tvbrasil
GioBretas: #48hvotobr a TV Brasil está mostrando o total de votos, dando uma noção de da diferença de 1 candidato para outro. www.tvbrasil.org.br/webtv
cidoli: RT @freitascouto: To acompanhando a cobertura da tvbrasil http://www.tvbrasil.org.br/webtv/
leotolomini: Acompanhe as eleições na TVBrasil
tuliofonseca: Na @TVBrasil Lula desmente boataria sobre ele permanecer no governo
leticiaaido: E eu crente que a Weslian levava essa...¬¬ RT @TVBrasil a cobertura das #Eleicoes2010 já mostrou que no DF, Agnelo do PT, foi eleito.
dcalazans: Acompanhando a cobertura das eleições pela TV Brasil. Aqui: http://www.tvbrasil.org.br/webtv/
tgpgabriel: @veramp Tô acompanhando pela TV mesmo, mas tenta aqui: http://www.tvbrasil.org.br/webtv/
thiagocipriano: A @TVBrasil conta com Leonardo Barreto e Teresa Cruvinel nos comentários da eleição http://twitpic.com/32pl10

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

O lapso de Serra

Nao sei o que fizeram outras televisões,  mas na TV Brasil , só encerramos a transmissão ao vivo da apuração eleitoral depois que José Serra se pronunciou, após o discurso de Dilma.

Conheço Serra há mais de 30 anos. Ainda que meu amigos tucanos não entendam que dirigir a TV Publica não seja o mesmo que filiar-se ao PT, ( porque ela, a TV, não é governamental nem partidária, é da sociedade democrática),   tenho por ele a mesma amizade que construimos quando ele chegou a Brasilia como deputado estreante, em 1987.  Nos conhecemos na noite em que ele chegou com  Claudio Abramo a uma festa de anivesário que eu estava dando.  Claudio foi que nos apresentou.  Eu era uma jovem colunista politica, ele um promissor quadro político e eu sabia disso. Muitas vezes demonstrei-lhe  minha amizade e respeito. Tenho dele alguns livros com as dedicatórias mais inteligentes e espirituosas da estante.

Por conhecê-lo, sei o que significou aquele travo em público, aquela dificuldade para começar a falar, e o lapso verbal que teve durante a fala. Um lapso que a seus amigos deve ter parecido  enorme.  A dor da derrota estava sendo maior que a vaidade. Ele se comuncia bem, tem apreço pela expressão e pela linguagem. Estava realmente travado mas foi altivo.

Serra seria um grande presidente. Poderá ser, nunca se sabe.  Foi derrotado, duas vezes, pela adversidade do ambiente. Estava contra a corrente em 2002 e novamente agora. Lula formulou isso bem a seu modo, dizendo que Serra deu azar duas vezes. Rui Barbosa  passou por isso. Ulysses Guimarães também. Nem por isso deixaram de entrar para a História. 

TC