quarta-feira, 11 de abril de 2012

Jornalismo de suposição

Não fui citada nem procurada pela Folha de São Paulo para a produção da matéria publicada nesta quarta-feira mas como parte da história aconteceu durante minha presidencia na EBC,  sinto-me na obrigação de prestar meu tributo á verdade.   A matéria parte de uma pressuposto para o qual nao apresenta nem provas nem indícios, o de que teria havido influência do ex-ministro Franklin Martins no resultado de uma licitação com sessão pública e aberta, documentada em video. Uma licitação cuja lisura é atestada pela associação dos produtores independentes para TV, a APBI-TV, ou seja, pela entidade que congrega os concorrentes.

Eu era  presidente da EBC quando fizemos, en 2008, a primeira licitação para a produção do programa Nova Africa. Uma licitação na modalidade técnica e preço, que levou meses. Lembro-me de que a produtora Baboon foi vencedora, de que a Cinevideo ficou em segundo ou terceiro lugar. Baboon fez uma bela série para a primeira temporada, Mas, por força de lei, dois anos depois não pude atender ao pleito da produtora e da diretoria de Jornalismo para renovar o contrato sem nova licitação. Embora a lei 8.666 preveja renovações por até cinco anos, isso não fora previsto em edital,. Logo, era preciso realizar nova licitação. A EBC já adotara, nesta altura, minha proposta de licitações simplificadas na modalidade que o mercado chama de pitching, com projeto piloto e defesa oral.  Em 2010, propus a anulação do primeiro concurso quando a Baboon não compareceu á sessão pública denunciando "irregularidades". Uma delas, o fato de a Cinevideo ter entregue sua proposta no protocolo da EBC e nao via Sedex, como previa o Edital. Poderiamos ter mantido o edital  mas,  para evitar suspeições, acolhi o parecer do diretor juridico Marco Antonio Fioravante,  pela anulação do procedimento já realizado.  Tudo fariamos para evitar sombras sobre a produção deste programa tão importante e questionamentos ao mecanismo do pitching,  fundamental para solidificar a participação da produção independente na programação da TV Pública. 

Lançamos novo edital e montamos um comissão de alto nivel para coordenar o concurso. Esta, por sua vez, montou comissão julgadora de qualidade indiscutível, como atesta Fernando Dias, da ABPI-TV, um dos concorrentes.  Eu já havia deixando o cargo quando ocorreu a sessão pública no início de dezembro de 2011.  AComissão técnica me convidou mas não pude ir.  Consta que as apresentações dos três finalistas impressionaram pela qualidade  mas que até os concorrentes admitiram a superioridade da proposta Cinevideo, que saiu vencedora.

Monica Monteiro é uma profissional de grande talento e indiscutível competência profissional.  Produz  para outros canais brasileiros, como TV futura e GNT.  Sua produtora tem unidade na Africa e seu trânsito profissional no continente é bastante conhecido. A Cinevideo já produzia para TV muito antes da criação da TV Brasil. Franklin Martins teve papel determinante na criação da EBC mas, uma vez criada a empresa,  a gestão cotidiana, seja dos canais ou da empresa, passou a ser da diretoria-executiva que presidi. Da mesma forma, hoje em dia a ministra Helena Chagas nao responde pela gestão da empresa que é presidida por Nelson Breve.

A matéria da Folha de São Paulo tem muitas incorreções mas é com o reducionismo ligeiro, sempre utilizado para fazer  valer um pressuposto, que ela se afasta do bom jornalismo. Quando oferece ao leitor um titulo como "Estatal contrata namorada de ex-ministro", a matéria atropela a verdade e os fatos, desinforma e confunde o seu leitor.  A EBC não contratou a namorada de ninguem, nem sequer uma pessoa física. A empresa realizou uma licitação que foi vencida por uma empresa, a Cinevideo, e este resultado não foi contestado pelas demais licitantes. A vida pessoal de nenhum dos concorrentes foi analisada pela comissão avaliadora, de padrão técnico e moral indiscutível. Mas estas informações não são oferecidas de forma linear ao leitor. Não ouviram os membros da comissão avaliadora, nem um orgão de representação como a ABPI, nem um dos canais privados que trabalham com a Cinevideo, nem mesmo a Baboon, que nunca escondeu sua frustração por não ter podido continuar sendo a fornecedora de Nova Africa.

Pela verdade e pelos fatos, eu precisava falar deste assunto.

TC



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