segunda-feira, 13 de maio de 2013

A poesia resiste

(Publicado no Correio Braziliense)

O lançamento de um livro de verdadeira poesia é sempre motivo para celebração: já não há lugar para o poema em nosso tempo real, duro e global, movido a informação. Não se publica poesia porque os poetas estão em extinção. Ou será o contrário? Volta a Ítaca, que está sendo lançado pela parceria entre as editoras Lacre e Boca da Noite, é um livro que nos devolve o sonho helênico, matriz de todos os sonhos ocidentais, nos versos do brasileiro Virgilio Costa e nas gravuras da artista plástica grega Artemis Alcalay. Como diz o poeta Alexei Bueno em seu prefácio, o verso e o traço ganham “uma simbiose perfeita e inarredável”.

A Grécia, seus deuses, mitos e heróis, inspiraram dezenas, talvez centenas de obras literárias, na prosa e na poesia. Boa parte delas centrada em Ulisses, em sua venturosa viagem de volta à ilha de Ítaca, enfrentando o mar bravio, os ciclopes, os dragões e o canto traiçoeiro das sereias. Os poemas de Volta a Ítaca cultuam esse universo não como pura evocação histórica, mas para falar de sentimentos e situações de nosso tempo.

Alguns, mais confessionais, falam de exílio, andanças por terras distantes, enfrentamentos políticos, o amor e as perdas, na experiência do autor. O mar é uma constante, plácido ou agitado. “É um viagem. Nostalgia. Noite no Mar Egeu. Barco de homens de pele queimada e estranha língua. A mesma face, a mesma raça”, ressaltam os versos de Virgilio.

O poeta, doutor em artes e humanidades, mestre em artes visuais, graduado em teoria da comunicação, é pesquisador em história da Casa de Rui Barbosa, ensaísta e pintor.
Os desenhos de Artemis foram produzidos em Nova York de 1985 a 1995. “São frutos de árvores distintas, debaixo da mesma tempestade”, destaca Virgilio. A nostalgia pela Grécia e o sentimento comum de exílio refletido nos poemas do amigo criaram as bases para o livro, aponta Artemis. Um livro para ser sorvido, nos versos e nas formas. De volta a Ítaca será lançado amanhã, na Casa de Rui Barbosa, no Rio, com a exposição das gravuras. O lançamento em Brasília está sendo programado.

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Cores fúnebres: morre o artista plástico Luiz Carlos Cruvinel

Amigos, amigas,
Este blog esta´virando um obituário prolongado. Morreu esta noite o pintor, arquiteto, artista plástico e pensador irreverente Luiz Carlos Cruvinel. Aos de Brasilia, informo que será velado esta tarde no Campo da Esperança, tempo 2.
Por ora, na falta de tempo, republico o post que saiu aqui, sobre sua ultima exposição. Ele deixa uma obra linda, a mulher Alcione, os filhos Júnior, Julia e Marina, seis netos e muito saudade. Segue o post.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Amostras de Cruvinel (o pintor)



Isso aqui é uma pequena amostra da exposição  maior "Amostras de Cruvinel", que estará no Mezanino do Teatro Nacional de Brasilia, do dia 20, sexta-feira próxima, ao dia 28 de julho deste 2012, com apoio da Secretaria de Cultura.do GDF. A exposição faz parte do encontro "Contemporâneos Velhos de Guerra", que reunirá em Brasília, pela sexta vez, ex-alunos e ex-professorse da UnB nos anos 60,  anos de sonho, utopia e tragédia da Universidade criada por Darcy Ribeiro. Eles ousaram nas artes e nas ciências, quebraram tabus e enfrentaram a ditadura.  Com um deles, ela desapareceu, e agora esperamos que a Comissão da Verdade revele o que aconteceu com Honestino Guimarães depois de ser preso no Campus, em 1968, com os colegas protestando e cercando a viatura. Naquela crise, a Universidade foi invadida, muitos foram presos, cerca de 200 professores, que incluiam nomes da fina flor da inteligência brasileira de então, foram demitidos ou se demitiram.  O físico Roberto Salmeron foi um deles e tem um belo livro sobre o assunto. Padu, o jornalista Antonia Padua Gurgel, também escreveu sobre esta saga. Eu vivi tudo isso novamente, de forma um pouco mais amena, nos anos 70. Quem arregaça as mangas para que este encontro aconteça, mais que todos, é o arquiteto Antonio Carlos Morais de Castro, o Morais. Falei muito do encontro, agora falo do pintor e sua obra.
Antes que me pergunte, Luiz Carlos Cruvinel é de Morrinhos, Goiás. Eu,  de Minas. Coromandel/Abadia dos Dourados. Os meus ancestrais, como os dele, sairam do núcleo Cruvinel de Uberaba, uma gente que veio vindo, do litoral para o Sertão de Minas, passando por São João Del Rey,  Guaxupé, Formiga, Desemboque, Sacramento etc. Então, em algum distante lugar do passado, somos parentes. No sangue. Mas no coração, Cruvinel é meu-primo irmão de primeiro grau. Se eu falar que é irmão, o Luiz Humberto Cruvinel, fotógrafo, meu único irmão biológico, ficará  com ciuúmes. Luiz Carlos tem este lugar no meu coração, pela pessoa inteligente, correta e generosa que é,   pelo artista que habita nele. Tudo extensivo à  Alcione, sua mulher, também artista plástica, ao Júnior, Julia e Marina. 
 Adolescente,  pouco depois  de chegar a Brasília deparei-me um dia com  uma exposição dele na galeria da W-3 Sul, 508, da Fundação Cultural. Acho que não existe mais. A W-3 norte não existia.  Fiquei curiosa e nunca descansei até conhecê-lo,anos depois, numa tarde seca,  no decadente conjunto Conic, onde tomamos muitos cafés com pão-de-queijo trocando figuras sobre os Cruvinel, uma gente muito louca que não vem ao caso aqui. Nunca mais nos perdemos. Participei, indisciplinadamente, de O Caixote, a linda revista eletrônica de arte que ele produziu com Lizete Mercadante e outras pessoas criativas e criadoras. Pode ser visitada e lida ainda, na Internet. 
Não sou crítica de arte, apenas amante. Os quadros dele me impactaram, desde a tal exposição que vi pela primeira vez. Mais tarde é que conheci a obra de Siron Franco, e soube que os dois e outros mais compunham uma especie de nova escola de arte goiana. O fato é que achei tudo muito lindo nos quadros do Luiz:  a fina técnica, o pincel quase invisível,  os temas, um quê de surrealismo, o vermelho e o azul gritantes. Para não falar bombagem, reproduzo o que Walmir Ayala disse dele: 
"Cruvinel extrai do caos a imagem do homem contemporâneo. Como tantos artistas de tantas épocas, esta imagem surgia sem gosto terrestre (no dizer ceciliano), perplexa como a dos nascituros condenados à vida"..."A tudo isso Cruvinel propõe uma energia cromática que se liga ao remoto oficio arquitetônico. Arquiteto e pintor tocam-se as máos e forjam um tempo plástico que se consuma original, na medida em que se torna verdadeiro e lúcido".
Mais não digo. Convido meus conterrâneos e contemporâneos de Brasília (eu sou UnB anos 70, combinado?)  a visitarem a exposição do Luiz, fruindo um momento de prazer diante do belo.  E os dos anos 60, a procurarem o Morais caso queiram participar da programação do encontro, "Contemporâneos Velhos de Guerra", parafraseando mestre Waldirmir Carvalho, para  recordar aqueles tempos inesquecíveis.
TC
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