segunda-feira, 2 de maio de 2011

Bin Laden no fundo do mar

Para dar conta das obrigações que tenho, ponho na geladeira a analista politica que sou. Faço análises para mim mesma, penso comigo mesma, discordo e concordo, calada, com uns e outros. só muito raramente cedo às tentações. Como agora, na morte de Bin Laden.

A festa dos americanos por sua morte, em Times Square, me impressinou na noite de domingo. Fiquei vendo emissoras americanas até muito tarde. Claro que o povo americano tem seus motivos e suas feridas, claro que acalentaram por dez anos a justa sede de vingança contra quem comandou o 11 de Setembro. Mas a festa para a morte sempre me parece imprópria.. Algo que só poder americano poderia tornar "natural".

Não creio que o presidente Obama  tenha feito a melhor escolha. A festa em Times Square e por todo o país sugere que a popularidade dele vai subir e que suas chances de reeleição, hoje tão minguadas, crescerão. Mas a divulgaão de que houve  "enterro" no mar, "de acordo com a tradição islâmica",  soou a  escárnio.  A não apresentação do corpo e da prova da morte do lider terroirsta também são esquisitas, transmitem prepotência.   Falam do unilateralismo americano, que está na origem do insurgência do mundo islâmico.    O "enterro" de Bin Laden no fundo do mar remete à decapitação cruenta de Saddan Hussein.

Laden e Saddan foram principes da barbárie. Nada a favor deles. Mas quando os Estados Unidos dãoc abo da vida deles de forma tão  pouco civilizada, também se aproximam do extremo.  Prendê-lo e julgá-lo, como a Europa fez com os criminosos nazistas,  daria algum trabalho mas reforçaria a ideia dos Estados Unidos como pátria da liberdade, da democracia e dos direitos humanios.  Corrijo-me: Obama até pode ganhar com a morte de Bin Laden   Os Estados Unidos, não. Pelo menos, no imaginário do mundo, longe de Times Square.

Cavalos na manhã de Brasília

Compartilho com vocês o artigo publicado no Correio Braziliense do dia 30 de Abril de 2011
 
Cavalos na manhã de Brasília :: Tereza Cruvinel
Jornalista, presidente da Empresa Brasil de Comunicação (EBC)

Quando passo de carro pela outra pista, os cavaleiros já estão dentro da Ponte do Bragueto, sob o sol brilhante da quinta-feira santa, 21 de abril, que coincide com os 51 anos de Brasília. Os cavaleiros são brancos, pretos, pardos, mulatos, caboclos. Os cavalos são baios, brancos, pretos, pedriscos, pintados. Há burros, éguas, mulas, jumentos, potros e potrinhos. Vejo arreatas bonitas, cobertas com pelegos e cochenis coloridos, e montarias modestas, o cavaleiro empinado sobre o arreio seco com forro de retalhos.
 
Eles vêm de Paracatu, Unaí, Buritis, Minas diversas. De vários cantos de Goiás, uns mais próximos, como Formosa, Cavalcante, Pirenópolis, Corumbá de Goiás, Luziânia, Cristalina. E de mais longe até. Vejo mulheres montadas. São minoria, mas estão lá. Vejo algumas alas da “sociedade organizada”. Uma que parece ser da Contag e outra que deve ser do MST. Mas são, principalmente, homens e mulheres deste antigo sertão festejando o aniversário de Brasília. Em vez de dobrar à direita para o Lago Norte, sigo na outra pista, contemplando o porte dos cavalos e a beleza daqueles homens e mulheres do campo. O que fisga é uma suave e melancólica emoção. No Balão do Torto é que vou encontrar os últimos e atrasados cavaleiros.

Esse espetáculo vem se tornando tradição nos últimos anos, graças ao esforço de um conjunto de pessoas e instituições, mas os cavaleiros e cavaleiras atendem ao chamado porque sabem, porque experimentam em suas vidas, o que Brasília significou para o velho sertão esquecido. Por ele passou antes de todos o Anhanguera, buscando ouro e matando índios. Mais tarde, em 1849, aqui esteve o historiador Francisco de Varnhagen, o primeiro a indicar que a nova capital devia ficar entre as três lagoas: a Feia (Formosa), a Formosa (hoje em Planaltina-GO, a Brasilinha) e a Mestre D’Armas (Planaltina-DF). Em 1892 veio Luiz Cruls, com sua missão composta de astrólogos, botânicos, médicos, geógrafos e outros pesquisadores encarregados de estudar o Planalto.

Duas outras comissões (uma delas integrada pelo dr. Ernesto Silva, falecido há dois anos, logo depois de conceder-me longa entrevista) trataram ainda da demarcação do sítio onde se ergueria Brasília, hoje muito próxima dos pontos indicados por Cruls e Varnhagen. Ambos cruzaram esses chapadões a trote. Meu avô materno, pelos anos 20 do século passado, passou anos indo e vindo, a cavalo, é claro, entre o Alto Paranaíba, em Minas (Coromandel, Abadia dos Dourados, Paracatu) e o sertão de Goiás. Minha avó sempre rezando para que voltasse. Buscava gado para revender e ganhar a vida.

Por tudo isso é forte o simbolismo da cavalhada. Podemos dizer que a história, a do Brasil, em geral, e do Planalto Central, em particular, foi escrita na pata dos cavalos. Nos tempos antigos de Portugal, não havia festa sem cavalhada, tradição que cruzou o Atlântico e sobrevive entre nós. No início dos 700, os árabes atravessaram Gibraltar e ocuparam a Península Ibérica até o século 15. Em 778, o rei francês Carlos Magno atravessou os Pireneus com seu exército para expulsá-los. Não conseguiu, mas virou lenda. Tudo a ver com Pirenópolis e suas montanhas, também chamadas Pireneus.

Os que por aqui nasceram, os que por aqui se estabeleceram buscando fronteiras novas (como Ceres e Formosa), os que chegaram chamados para a aventura de construir Brasília, todos sabemos que aqui havia um sertão, uma espécie de Idade Média, um ermo esquecido pelo Brasil governado do litoral para o litoral. O que sabemos, digam o que quiserem da cidade, é que Brasília foi ruptura e ousadia, realizadas por homens e mulheres liderados por um estadista, na crença comum de que outro Brasil era possível. Ainda hoje, é quando isso acontece que o Brasil muda de cara e de paisagem.