Estive no Rio, no sábado, para estar entre os que homenagearam Alberto Dines pela passagem de seus 80 anos de vida. Vida luminosa e digna, dedicada ao conhecimento e à cultura, devotada ao jornalismo e compartilhada amorosamente com a Norma Couri.
Revi muitos amigos, de tempos diversos. Melhor não citá-los também, para não esquecer ninguem. O Aziz Filho, um grande companheiro na implantação da TV Brasil, como gerente de jornalismo no Rio, fez muitas e boa fotas, que estão no Facebook. Vejam lá. Eu posto apenas uma, dada minha dificuldade de "subir fotos". Vamos lá.
Acredito que mais de 300 pessoas passaram pelo restaurante Fiorentina, no Leme. Quase todos e todas, jornalistas. A maioria passou pelo glorioso Jornal do Brasil, que Dines reformou, gráfica e editorialmente, lançandos as âncoras (técnicas, éticas e estéticas) da moderna imprensa brasileira. Dos que foram colaboradores de Dines nesta empreitada não vou citar nomes para evitar omissões. Cito apenas Carlos Lemos, que foi seu secretário de redação e, mais tarde, seria meu diretor na sucursal de O Globo em Brasília. Foram ele e o Evandro Carlos de Andrade que apostaram numa jovem repórter, tardiamente diplomada depois de anistiada, para escrever a coluna política do jornal, que se renovava para os tempos democráticos que estavam chegando. Era 1985. Na coluna, acabei ficando 22 anos. Foi Lemos, com suas histórias sobre os tempos venturosos do JB, que me ensinou a admirar o Dines, nesta epoca vivendo em Portugal. Passei tambem a ler seus livros e a invejar sua capacidade de conciliar as premências jornalisticas com a pesquisa e a produção disciplinada para seus livros que eu classificaria como de jornalismo histórico.
Dines voltou ao Brasil, criou o Observatório da Imprensa, o site, suprindo a ausência então absoluta de espaços para a critica e a reflexão sobre a mídia. Depois criou o programa com o mesmo nome na TVE, para o qual passou a me convidar com frequencia. Muitas foram as terças-feiras em que eu, depois de escrever uma coluna e fazer um comentário ao vivo no "Jornal das Dez" da Globonews, corria para o edifício da Radiobrás, na 702 Norte de Brasilia, e sozinha no estúdio, interagia com Dines, no estúdio da TVE-Rio, e com seus convidados. Neste tempo, a TV Cultura também transmitia o programa e emprestava seu estúdio para os convidados de São Paulo. Aprendi mais do que colaborei, nestes debates. O que eu não sabia é que, entre 2007 e 2011, trabalharia naquele prédio, implantando a EBC e a TV Brasil, que ainda em minha gestão transferi para novas e modernas instalações no Conjunto Venancio 2000.
No estrépito de minha nomeação para o cargo, no final de 2007, foi Dines que me deu o maior e mais respeitoso espaço para explicar e defender o projeto. De debatedora, virei entrevistada, num programa que foi ao ar em novembro de 2007. Lembro-me de que o Carlos Marchi era um dos entrevistadores e que ele se referiu á minha integridade como indicador positivo para a nova emissora. Marchi: entrei e saí com as mãos limpas. Fui muito atacada mas não me acusaram de qualquer ilícito ou bandalha. E a TV Pública existe, embora haja ainda muito por fazer nos próximos anos e décadas.
Tendo me tornado dirigente da TV que exibia o Observatório, naturalmente não mais participei dele. Dines, quando me escrevia para apresentar questões administrativas relativas ao programa, lançava-me um irônico "chefa", que eu fingia não ter percebido. Creio ter feito o possivel para melhorar suas condições de trabalho e para valorizar um programas que não tem similar na televisão brasileira. Um programa que só a TV Pública poderia produzir e veicular. Dines contribuiu também, nestes quatro anos cruciais, com sua atuação absolutamente independente: nunca discutiu linhas do programa comigo ou com qualquer diretor. E nós jamais lhe fizemos sequer uma sugestão de tema ou de entrevistados, conduta adotada em relação a todos os programas da grade.
Mas estou contando tudo isso para dizer que eu nao poderia ter deixado de ir no sábado ao Rio para, numa tarde linda em que as andorinhas se despediam do verão em Copacabana, juntar-me aos tantos que, ao abraçar Dines, homenagearam o Jornalismo, seu compromisso com a vida e com a verdade. Viva Dines, com quem tantos aprenderam tanto. Dines, a quem devemos muito.
TC
tereza, parabens a vc e ao dines. ele, pelos oitenta e vc pela coerencia. um abraço . marcia cibilis
ResponderExcluirQuerida Marcia,
ExcluirSaudades e obrigada pela leitura. O blog nao registra o email. Você tem o meu e poderia me escrever? Abs, Tereza