sexta-feira, 4 de maio de 2012

CPI do perde-perde

Leitores, leitoras,

Obrigada pelo afluxo crescente ao blog. Obrigada ao Ricardo Noblat,  pela reprodução do último post em seu blog em O Globo. Obrigada ao jornal digital 247, que fez o mesmo, apontando no post "uma crítica sutil" à presidente. Foi uma notícia, apenas isso. O estilo e o processo decisório dos governantes são coisas de interesse público.
Agora compartilho o artigo mensal para o Correio Braziliense, publicado na página de Opinião no sábado, dia 28 de abril.



Um jogo de perde-perde

Acompanho, a alguma distância, o zumbido em torno da Comissão Parlamentar de Inquérito que  promete  o fim do mundo  ao revelar o submundo das relações entre  partidos, políticos e o contraventor Carlinhos Cachoeira.   Algumas CPI s  devastam a conjuntura, destroem carreiras e reputações e acabam alterando a dinâmica do jogo político. Outras morrem melancolicamente, produzindo quilos de papel e nenhuma conseqüência.    Lamentavelmente, poucas CPIs produziram mudanças institucionais e legais efetivas, capazes de impedir a repetição dos mesmos delitos. Uma delas, a dos anões do Orçamento,  de 1993, legou-nos a Lei das Licitações, que a sucessão de escândalos envolvendo compras e contratos públicos sugere estar carecendo de revisão.
A CPI do Cachoeira parece destinada ao primeiro grupo:  Fatos graves já vazaram da Operação Monte Carlo, da Polícia Federal,  os atores são graúdos, assim como os recursos movimentados, especialmente via construtora Delta. Pelo menos quatro partidos (DEM, PT, PSDB e PMDB)  estão molhados ou respingados.   Assim, esta CPI deve ter um impacto variável entre o terremoto e a tsunami. Não será o de uma marolinha.
Por isso mesmo   não deixa de ser estranho e de beirar o non-sense  o empenho de governistas e oposicionistas por sua instalação.  Se o interesse fosse pela  produção de  medidas efetivas para evitar as reincidências,  nada impediria que o Congresso requisitasse e obtivesse o resultado das investigações da PF para, a partir delas, elaborar leis e medidas corretivas.  Está bem, não se trata disso,  os partidos querem é palanque e ponto de tiro contra os adversários num ano eleitoral.    Neste palco, dançarão o balé do arrastão, cada qual tentando puxar os adversários para a chuva.   Agora o senador Demóstenes já tem companhia tucana e petista, como os governadores Perilo (GO) e Agnelo (DF).  Outros vão entrar na dança, de um lado como de outro. 
A tática pode ser equivocada.    Para uma oposição que vive na defensiva há dez anos   -  embora tenha levado o PT e o Governo às cordas, mas não ao chão, em 2005    -  nenhum ganho pode vir de uma CPI  que começará crucificando um senador que era ícone do moralismo.  Os elementos para a cassação de Demóstenes são claros e fortes, dispensavam uma CPI.
Já o Governo deve  saber que não existe CPI boa para quem governa. Ainda mais quando  uma construtora com contratos vultosos  é suspeita de pertencer ao réu principal.   Mas, altaneiro, o Governo não mobilizou sua maioria para evitar sua instalação.
Atribui-se ao PT,  e com ênfase ao ex-presidente Lula,   o propósito de usar a CPI para embaralhar o julgamento do mensalão pelo STF.   Esta estratégica, procedente ou não,  também é contraditória.   “Nivelando por baixo”  os partidos e os políticos  o PT só aumentaria o interesse da população pelo julgamento do STF. Lula, ao deixar a Presidência, disse-me numa entrevista à TV Brasil que um de seus objetivos fora do cargo seria corrigir a narrativa do mensalão.  Nunca o vi negar que o uso dos tais recursos  “não contabilizados”. Mas ele nunca aceitou a narrativa  pela qual o caixa dois, o valerioduto de origem tucana e outras estripulias do financiamento eleitoral são invenções de uma quadrilha petista.    Foi o que disse na desastrosa entrevista de Paris,  ao afirmar que o  PT fez o que se faz rotineiramente no Brasil.  Sua atitude é mais compreensível que a do Planalto e a da oposição.    Tancredo Neves ensinava que na política existe o ganha-ganha,   ações em que todos lucram,  existem o ganhar perdendo e o perder ganhando, e ainda o jogo do perde-perde, como parece  ser o caso desta CPI que promete maremoto ou tsunami para todos.
***
Comissão da Verdade: O que estaria esperando a presidenta Dilma para indicar os nomes que comporão a Comissão da Verdade?  Estaria apenas seguindo o que parece ser um método seu, o de cozinhar e fritar problemas e pessoas até que as soluções se imponham? Seja o que for, agora esta importante iniciativa de seu Governo já foi  atropelada pela CPI do Cachoeira, com a qual concorrerá quando (e se) for instalada.

2 comentários:

  1. Prezada Tereza,

    Com todo o respeito à sua imensa experiência no assunto, eu creio que neste caso você não entendeu o que está se passando. Aliás, nem passou perto.

    Tratasse simplesmente da vingança dos chantageados pelo trio Cachoeira-Demóstenes-Civita. Se é que não tem mais capo nesse negócio.

    Estes montaram um esquema criminoso para enriquecer e auferir imenso poder com uma parceria entre grampos ilegais e divulgação canhestra.

    Os políticos, independentemente de partido, estavam acuados por este esquema criminoso. A resposta da cpmi só pode ser uma: aniquilar os criadores do esquema.

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  2. Sob o olhar triste,

    De uma rosa ferida,

    Um espinho sofre

    Banhado em sangue...



    (Agamenon Troyan)

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