Obrigada pelo afluxo crescente ao blog. Obrigada ao Ricardo Noblat, pela reprodução do último post em seu blog em O Globo. Obrigada ao jornal digital 247, que fez o mesmo, apontando no post "uma crítica sutil" à presidente. Foi uma notícia, apenas isso. O estilo e o processo decisório dos governantes são coisas de interesse público.
Agora compartilho o artigo mensal para o Correio Braziliense, publicado na página de Opinião no sábado, dia 28 de abril.
Um jogo de perde-perde
Acompanho, a alguma distância, o zumbido em torno da Comissão
Parlamentar de Inquérito que promete o fim do mundo
ao revelar o submundo das relações entre
partidos, políticos e o contraventor Carlinhos Cachoeira. Algumas
CPI s devastam a conjuntura, destroem carreiras
e reputações e acabam alterando a dinâmica do jogo político. Outras morrem melancolicamente,
produzindo quilos de papel e nenhuma conseqüência. Lamentavelmente, poucas CPIs produziram
mudanças institucionais e legais efetivas, capazes de impedir a repetição dos
mesmos delitos. Uma delas, a dos anões do Orçamento, de 1993, legou-nos a Lei das Licitações, que a
sucessão de escândalos envolvendo compras e contratos públicos sugere estar
carecendo de revisão.
A CPI do Cachoeira parece destinada ao primeiro grupo: Fatos graves já vazaram da Operação Monte
Carlo, da Polícia Federal, os atores são
graúdos, assim como os recursos movimentados, especialmente via construtora
Delta. Pelo menos quatro partidos (DEM, PT, PSDB e PMDB) estão molhados ou respingados. Assim,
esta CPI deve ter um impacto variável entre o terremoto e a tsunami. Não será o
de uma marolinha.
Por isso mesmo não
deixa de ser estranho e de beirar o non-sense o empenho de governistas e oposicionistas por
sua instalação. Se o interesse fosse
pela produção de medidas efetivas para evitar as
reincidências, nada impediria que o
Congresso requisitasse e obtivesse o resultado das investigações da PF para, a
partir delas, elaborar leis e medidas corretivas. Está bem, não se trata disso, os partidos querem é palanque e ponto de tiro
contra os adversários num ano eleitoral.
Neste palco, dançarão o balé do arrastão, cada
qual tentando puxar os adversários para a chuva. Agora o senador Demóstenes já tem companhia
tucana e petista, como os governadores Perilo (GO) e Agnelo (DF). Outros vão entrar na dança, de um lado como
de outro.
A tática pode ser equivocada. Para
uma oposição que vive na defensiva há dez anos
- embora tenha levado o PT e o
Governo às cordas, mas não ao chão, em 2005
- nenhum ganho pode vir de uma
CPI que começará crucificando um senador
que era ícone do moralismo. Os elementos
para a cassação de Demóstenes são claros e fortes, dispensavam uma CPI.
Já o Governo deve
saber que não existe CPI boa para quem governa. Ainda mais quando uma construtora com contratos vultosos é suspeita de pertencer ao réu principal. Mas, altaneiro, o Governo não mobilizou sua
maioria para evitar sua instalação.
Atribui-se ao PT, e
com ênfase ao ex-presidente Lula, o
propósito de usar a CPI para embaralhar o julgamento do mensalão pelo STF. Esta estratégica, procedente ou não, também é contraditória. “Nivelando por baixo” os partidos e os políticos o PT só aumentaria o interesse da população
pelo julgamento do STF. Lula, ao deixar a Presidência, disse-me numa entrevista
à TV Brasil que um de seus objetivos fora do cargo seria corrigir a narrativa
do mensalão. Nunca o vi negar que o uso
dos tais recursos “não contabilizados”.
Mas ele nunca aceitou a narrativa pela
qual o caixa dois, o valerioduto de origem tucana e outras estripulias do
financiamento eleitoral são invenções de uma quadrilha petista. Foi o
que disse na desastrosa entrevista de Paris, ao afirmar que o PT fez o que se faz rotineiramente no Brasil. Sua atitude é mais compreensível que a do
Planalto e a da oposição. Tancredo Neves ensinava que na política existe
o ganha-ganha, ações em que todos lucram, existem o ganhar perdendo e o perder
ganhando, e ainda o jogo do perde-perde, como parece ser o caso desta CPI que promete maremoto ou
tsunami para todos.
***
Comissão da Verdade: O que estaria esperando a presidenta
Dilma para indicar os nomes que comporão a Comissão da Verdade? Estaria apenas seguindo o que parece ser um
método seu, o de cozinhar e fritar problemas e pessoas até que as soluções se
imponham? Seja o que for, agora esta importante iniciativa de seu Governo já
foi atropelada pela CPI do Cachoeira,
com a qual concorrerá quando (e se) for instalada.
Prezada Tereza,
ResponderExcluirCom todo o respeito à sua imensa experiência no assunto, eu creio que neste caso você não entendeu o que está se passando. Aliás, nem passou perto.
Tratasse simplesmente da vingança dos chantageados pelo trio Cachoeira-Demóstenes-Civita. Se é que não tem mais capo nesse negócio.
Estes montaram um esquema criminoso para enriquecer e auferir imenso poder com uma parceria entre grampos ilegais e divulgação canhestra.
Os políticos, independentemente de partido, estavam acuados por este esquema criminoso. A resposta da cpmi só pode ser uma: aniquilar os criadores do esquema.
Sob o olhar triste,
ResponderExcluirDe uma rosa ferida,
Um espinho sofre
Banhado em sangue...
(Agamenon Troyan)