terça-feira, 8 de maio de 2012

A guerra dos juros


O gesto de maior coragem política da presidente Dilma Rousseff no cargo (afora a postura destemida e coerente do passado) foi a mexida nas regras da caderneta de poupança, seguida de um desafio aos bancos privados para que baixem os juros, os spreads e as taxas de serviços, ampliando a oferta e o acesso ao crédito, dentro do esforço para aquecer a economia e garantir o crescimento, apesar da situação externa ruim.  Depois de uma semana de silêncio, os bancos reagiram, e parecem dispostos a resistir à pressão que a presidente exerceu de forma pessoal e crescente, desde abril, terminando com a mudança na poupança.
Alguns analistas acham que Dilma acertou no conteúdo mas errou no tom. Falou em “lógica perversa” e qualificou as taxas de serviços dos bancos como “um roubo”.   Mas ninguém de bom senso, entretanto, questionou a necessidade de uma mudança no trato com os bancos, e, muito menos, a necessidade de redução do custo bancário na conjuntura atual.  

Mexer na poupança foi uma atitude arriscada, assinalou-se também, pois se trata do instrumento usado pela maioria da população que consegue poupar.   O desgaste seria compensado pelo enfrentamento com os bancos e a queda dos juros. Ademais, já era tempo de Dilma apresentar feitos de seu governo, que não fossem “mais do mesmo feito por Lula”, como o PAC, os programas sociais, a redução da miséria e da desigualdade, a afirmação soberana e a maior importância do Brasil na cena internacional etc. etc.
O relatório que os bancos divulgaram ontem cita as medidas tomadas mas não o tiroteio verbal de Dilma, dando a entender que não atenderão ao  chamado. O relatório assinado pelo economista-chefe da FEBRABAN, Rubens Sardenberg, questiona a própria eficácia das medidas, dizendo que a mexida na poupança sinaliza com novas quedas na Selic mas não servem, necessariamente, para ampliar o credito. A ampliação dependeria de outros fatores, num momento em que os agentes econômicos têm um comportamento cauteloso, diante da inadimplência e do cenário econômico global.

O cabo de guerra agora foi esticado, com o Governo numa ponta e os bancos na outra. É possível que a corda não arrebente para nenhum lado, que acabem se acomodando a um jogo de estica e afrouxa, ao sabor da conjuntura. Mas, se o Governo não for clara e totalmente vitorioso nesta briga, terá perdido, ainda que consiga baixar mais a taxa Selic, o que depende do Banco Central e não da FEBRABAN. 
A presidente acertou na iniciativa e pode nem ter errado no tom.  Mas se tivesse se exposto menos pessoalmente, deixando para outros do Governo a beligerância verbal, num caso de derrota ou de vitória parcial,   não teria o ônus. A fatura poderia ficar para a Fazenda.  Do modo como fez, pariu Mateus.

Um comentário:

  1. Primeiro, é um prazer voltar a lê-la, espero que amiude a partir de agora. Segundo, bem, a Febraban se retratou; no mínimo, percebeu que pegou mal a resistência pública. Provavelmente, vão acabar tendo de rever um pouco suas taxas, mas não tanto quanto o governo gostaria. E finalmente, embora saiba que é um assunto espinhoso, adoraria ler (ao menos) uma leitura isenta do envolvimento de setores da imprensa nacional com Cachoeira e seus asseclas. Abraços.

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