O gesto de maior coragem política da presidente Dilma
Rousseff no cargo (afora a postura destemida e coerente do passado) foi a
mexida nas regras da caderneta de poupança, seguida de um desafio aos bancos
privados para que baixem os juros, os spreads e as taxas de serviços, ampliando
a oferta e o acesso ao crédito, dentro do esforço para aquecer a economia e
garantir o crescimento, apesar da situação externa ruim. Depois de uma semana de silêncio, os bancos
reagiram, e parecem dispostos a resistir à pressão que a presidente exerceu de
forma pessoal e crescente, desde abril, terminando com a mudança na poupança.
Alguns analistas acham que Dilma acertou no conteúdo mas
errou no tom. Falou em “lógica perversa” e qualificou as taxas de serviços dos
bancos como “um roubo”. Mas ninguém de bom senso, entretanto,
questionou a necessidade de uma mudança no trato com os bancos, e, muito menos,
a necessidade de redução do custo bancário na conjuntura atual.
Mexer na poupança foi uma atitude arriscada, assinalou-se também,
pois se trata do instrumento usado pela maioria da população que consegue
poupar. O desgaste seria compensado
pelo enfrentamento com os bancos e a queda dos juros. Ademais, já era tempo de
Dilma apresentar feitos de seu governo, que não fossem “mais do mesmo feito por
Lula”, como o PAC, os programas sociais, a redução da miséria e da desigualdade,
a afirmação soberana e a maior importância do Brasil na cena internacional etc.
etc.
O relatório que os bancos divulgaram ontem cita as medidas
tomadas mas não o tiroteio verbal de Dilma, dando a entender que não atenderão
ao chamado. O relatório assinado pelo
economista-chefe da FEBRABAN, Rubens Sardenberg, questiona a própria eficácia
das medidas, dizendo que a mexida na poupança sinaliza com novas quedas na
Selic mas não servem, necessariamente, para ampliar o credito. A ampliação
dependeria de outros fatores, num momento em que os agentes econômicos têm um
comportamento cauteloso, diante da inadimplência e do cenário econômico global.
O cabo de guerra agora foi esticado, com o Governo numa
ponta e os bancos na outra. É possível que a corda não arrebente para nenhum
lado, que acabem se acomodando a um jogo de estica e afrouxa, ao sabor da
conjuntura. Mas, se o Governo não for clara e totalmente vitorioso nesta briga,
terá perdido, ainda que consiga baixar mais a taxa Selic, o que depende do
Banco Central e não da FEBRABAN.
A presidente acertou na iniciativa e pode nem ter errado no
tom. Mas se tivesse se exposto menos
pessoalmente, deixando para outros do Governo a beligerância verbal, num caso
de derrota ou de vitória parcial, não
teria o ônus. A fatura poderia ficar para a Fazenda. Do modo como fez, pariu Mateus.
Primeiro, é um prazer voltar a lê-la, espero que amiude a partir de agora. Segundo, bem, a Febraban se retratou; no mínimo, percebeu que pegou mal a resistência pública. Provavelmente, vão acabar tendo de rever um pouco suas taxas, mas não tanto quanto o governo gostaria. E finalmente, embora saiba que é um assunto espinhoso, adoraria ler (ao menos) uma leitura isenta do envolvimento de setores da imprensa nacional com Cachoeira e seus asseclas. Abraços.
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