Chego de Montevidéu ainda em tempo de receber Miguel e seu filho Pedro, de passagem por Brasilia, rumo ao Tocantins. Falo de Miguel Sousa Tavares, amigo da vida inteira, glorioso autor de Equador e Rio das Flores. Lucia Leão os recebe para mim no aeroporto, estou recebendo uma delegação chinesa. Flavio Mattos, da Radio Senado, satisfaz o desejo de Pedro, também jornalista, de ver o Congresso por dentro e funcionando. Como o pai há 30 anos, ele se apaixona pela obras de mestre Niemeyer. À noite, convoco meu filho Rodrigo e sua namorada Bia a uma inescapável churrascaria e vou pegar Miguel e Pedro para jantarmos. Na porta do hotel, encontramos o embaixador do Brasil em Lisboa, Mario Vilalva, que espera Paulo Portas, o chanceler do novo governo portugues. Miguel quer cumprimentá-lo. São amigos. Quem não é amigo de Miguel em Portugal? O homem se atrasa, Rodrigo me liga cobrando pontualidade. Filhos gostam de nos dar bronca quando têm razão. O homem finalmente desce e nos conta que perdeu a mala, vindo de Joanesburgo para o Brasil, via Moçambique. E daqui irá para a posse de Humala, novo presidente do Peru. Teve que comprar roupas para tudo isso. Em nossa breve conversa, recordo o acordo que assinamos no ano passado, eu e Franklin Martins, então ministro da Secom, com o ministro Lacão e o presidente da RTP, Guilherme Costa, para criarmos um canal internacional lusófono. Precisamos retomar a implementação. Ele me ouve, não diz que sim nem que não. Eu sei que o Governo dele está pensando em privatizar a RTP, a Radio e Televisão de Portugal, o sistemá público deles. Nao havia acreditado, mas a forma como me olhou, quando Miguel me apresentou, sugeriu que é verdade. E depois, quando fez que nao entendeu minha sugestão de retomarmos o acordo, tive certea.
Daqui a pouco, enquanto Miguel, Pedro, Rodrigo e Bia se entregavam ao festim das carnes (e eu também, por que nao dizer?), fiquei pensando e temendo: será que tudo o que eu tenho passado, eu e todos os que têm me ajudado na construção da TV Brasil, um dia veremos uma coisa destas acontecer? Não, não há de ser em vão.
Quando eu comecei a frequentar Portugal, há muitos anos, lá só havia uma TV, a RTP, e Miguel trabalhava nela. Hoje lá existe a Sic, a TVi e outros canais mas é a RTP faz algumas coisas que o setor privado não faz. Nela ocorrem os grandes debates. Nela se faz um programa como o Lá e Cá, parceria com a TV Cultura, com Markun e Carlos Fino, que nós já exibimos. A RTP é que tem canais na e para a Africa. E muito mais.
Melhor comer carne para esquecer.
A caminho do aeroporto, no dia seguinte, passo com eles pela Ermida Dom Bosco, e nada ali é como antes. Existe um condominio do lado esquerdo, que acabou com a amplidão e liquidou com silencio que me fazia ouvir corujas. Como naquele fim de tarde, véspera da morte de Eduardo Martini, em dezembro de 1979. Eu sabia que me avisavam de algo, só não imaginava o quê.
Desta vez não vi nem ouvi corujas. Miguel, que tanto ama o Brasil, foi conhecer mais um pedaço de chão, falar na Flit, a Feira Literária de Tocantins. Eu nao sabia dela, e saber que existe, naqueles confins, só aumentou minha certeza de que estamos nos transformando num grande pais de leitores. Dentre outras grandes coisas.
Não gosto do formato blog-diário mas acabei fazendo este.
TC
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