Compartilho com voces artigo que escrevi hoje no Correio Braziliense, a propósito da participação da Unesco no debate sobre a regulação da mídia, tão mal posto no Brasil, tão equivocado, sincera ou propositalmente. Acho sinceramente que a Unesco pode ajudar.
Bem-vinda, Unesco
Opinião
Tereza Cruvinel
Jornalista, presidente da Empresa Brasil de Comunicação (EBC)
Rancores abrandados, um dia a algaravia há de cessar. Os temores, sinceros ou não, hão de dar lugar ao debate racional, à reflexão comparativa e às formulações sobre a regulação de mídia e convergência digital que não tenham outro interesse senão o de aprimorar a democracia brasileira e fortalecer um de seus pilares, a liberdade de imprensa e de expressão.
Em artigo publicado no jornal Valor Econômico do dia 28 passado, o jornalista Sergio Leo informou a entrada de um novo ente nesse debate conturbado e distorcido, a Unesco. De fato, a agência da ONU encarregada de desenvolver ações globais a favor da educação, da ciência, da cultura e da comunicação vem acompanhando com atenção esse debate e a própria evolução dos sistemas de radiodifusão e telecomunicações no Brasil. Agora, seu ingresso no debate regulatório pode trazer uma brisa, podendo a Unesco até atuar como uma espécie de “força de paz” intelectual, aproveitando o clima criado por essa espécie de distensão nas relações entre a mídia e o governo-Estado, traduzida na inegável lua de mel entre a presidente Dilma e os meios de comunicação (embora pareça existir uma ordem de fogo unido contra o ex-presidente Lula).
A ofensiva da Unesco no debate terá um ponto alto em 17 de março, quando serão lançados três importantes estudos sobre regulação, informa o coordenador de Informação e Comunicação, Guilherme Canela. Dois são assinados pelos consultores internacionais Toby Mendel e Eve Salomon. Juntos, eles já trabalharam em mais de 60 países com o assunto. No estudo O ambiente regulatório para a radiodifusão: uma pesquisa de melhores práticas para os atores-chave brasileiros”, eles comparam a regulação de mídia em 10 democracias (África do Sul, Alemanha, Canadá, Chile, França, Estados Unidos, Jamaica, Malásia, Reino Unido e Tailândia) com a situação brasileira. A abordagem contempla temas como autoridades reguladoras independentes, concessões, regulação e autorregulação de conteúdo, emissoras públicas, emissoras comunitárias e regulação de propriedade. Em Liberdade de expressão e regulação da radiodifusão, eles sustentam que a lógica central da política regulatória deve ser exatamente fortalecer a liberdade de expressão. E não restringi-la, como se consegue ouvir na algaravia brasileira sobre o assunto.
Um terceiro texto é do consultor internacional Andrew Puddephatt e aborda A importância da autorregulação da mídia para a defesa da liberdade de expressão. Entende a Unesco que é importante esclarecer: jornalismo é matéria para autorregulação, mas os veículos também devem construir instrumentos claros e consistentes. A agência reguladora, afora a questão do direito de resposta, cuidaria de temas como conteúdo regional e independente e aspectos da convergência tecnológica.
No fim do governo Lula, o ex-ministro Franklin Martins deu importante contribuição para nosso avanço no tema. Realizou um seminário internacional que trouxe a Brasília especialistas e autoridades reguladoras de vários países. Na TV Brasil, entrevistamos o presidente da ERC, a agência portuguesa. A seguir, criou um grupo de trabalho que elaborou a proposta ora em exame no Minicom. Pela qualidade dos integrantes, não creio, ministro Paulo Bernardo, que tenha besteiras. As iniciativas de Franklin foram rechaçadas pela mídia e de outros setores.
Em 2007, a Unesco contribuiu, mas de forma mais tímida, com o debate sobre a criação da EBC, da televisão e demais canais públicos. Para que debate? Melhor falar na TV do Lula. Da mesma forma, com a proposta de Franklin, melhor falar em supressão da verdade ou especular sobre seu pendor censório. Mas, agora, há o frescor de um governo novo e uma instituição como a Unesco disposta a atuar de forma mais incisiva. Devemos saudar essa novidade, começando por deixar os rancores e as suspeitas fora da discussão sobre os estudos que ela apresentará no dia 17. Pela democracia, pela liberdade de expressão.
Jornalista, presidente da Empresa Brasil de Comunicação (EBC)
Rancores abrandados, um dia a algaravia há de cessar. Os temores, sinceros ou não, hão de dar lugar ao debate racional, à reflexão comparativa e às formulações sobre a regulação de mídia e convergência digital que não tenham outro interesse senão o de aprimorar a democracia brasileira e fortalecer um de seus pilares, a liberdade de imprensa e de expressão.
Em artigo publicado no jornal Valor Econômico do dia 28 passado, o jornalista Sergio Leo informou a entrada de um novo ente nesse debate conturbado e distorcido, a Unesco. De fato, a agência da ONU encarregada de desenvolver ações globais a favor da educação, da ciência, da cultura e da comunicação vem acompanhando com atenção esse debate e a própria evolução dos sistemas de radiodifusão e telecomunicações no Brasil. Agora, seu ingresso no debate regulatório pode trazer uma brisa, podendo a Unesco até atuar como uma espécie de “força de paz” intelectual, aproveitando o clima criado por essa espécie de distensão nas relações entre a mídia e o governo-Estado, traduzida na inegável lua de mel entre a presidente Dilma e os meios de comunicação (embora pareça existir uma ordem de fogo unido contra o ex-presidente Lula).
A ofensiva da Unesco no debate terá um ponto alto em 17 de março, quando serão lançados três importantes estudos sobre regulação, informa o coordenador de Informação e Comunicação, Guilherme Canela. Dois são assinados pelos consultores internacionais Toby Mendel e Eve Salomon. Juntos, eles já trabalharam em mais de 60 países com o assunto. No estudo O ambiente regulatório para a radiodifusão: uma pesquisa de melhores práticas para os atores-chave brasileiros”, eles comparam a regulação de mídia em 10 democracias (África do Sul, Alemanha, Canadá, Chile, França, Estados Unidos, Jamaica, Malásia, Reino Unido e Tailândia) com a situação brasileira. A abordagem contempla temas como autoridades reguladoras independentes, concessões, regulação e autorregulação de conteúdo, emissoras públicas, emissoras comunitárias e regulação de propriedade. Em Liberdade de expressão e regulação da radiodifusão, eles sustentam que a lógica central da política regulatória deve ser exatamente fortalecer a liberdade de expressão. E não restringi-la, como se consegue ouvir na algaravia brasileira sobre o assunto.
Um terceiro texto é do consultor internacional Andrew Puddephatt e aborda A importância da autorregulação da mídia para a defesa da liberdade de expressão. Entende a Unesco que é importante esclarecer: jornalismo é matéria para autorregulação, mas os veículos também devem construir instrumentos claros e consistentes. A agência reguladora, afora a questão do direito de resposta, cuidaria de temas como conteúdo regional e independente e aspectos da convergência tecnológica.
No fim do governo Lula, o ex-ministro Franklin Martins deu importante contribuição para nosso avanço no tema. Realizou um seminário internacional que trouxe a Brasília especialistas e autoridades reguladoras de vários países. Na TV Brasil, entrevistamos o presidente da ERC, a agência portuguesa. A seguir, criou um grupo de trabalho que elaborou a proposta ora em exame no Minicom. Pela qualidade dos integrantes, não creio, ministro Paulo Bernardo, que tenha besteiras. As iniciativas de Franklin foram rechaçadas pela mídia e de outros setores.
Em 2007, a Unesco contribuiu, mas de forma mais tímida, com o debate sobre a criação da EBC, da televisão e demais canais públicos. Para que debate? Melhor falar na TV do Lula. Da mesma forma, com a proposta de Franklin, melhor falar em supressão da verdade ou especular sobre seu pendor censório. Mas, agora, há o frescor de um governo novo e uma instituição como a Unesco disposta a atuar de forma mais incisiva. Devemos saudar essa novidade, começando por deixar os rancores e as suspeitas fora da discussão sobre os estudos que ela apresentará no dia 17. Pela democracia, pela liberdade de expressão.
Tereza, acho que a questão da regulação se torna simples se for tratada com objetividade. Por um lado, temos que assegurar a liberdade de expressão dos veículos, fundamental para o exercício pleno da democracia; por outro, há o direito da sociedade à informação. Ambos devem ser conciliados. O jornalismo não pode ser uma corporação fora do conjunto da sociedade, uma espécie de confraria, usando o conceito de liberdade de imprensa de forma absoluta para ficar acima do do bem e do mal. Isso faz com que o profissional, com medo de perder o emprego, fique refém dos interesses dos donos das empresas. O poder econômico assume o papel regulador que deveria ser da sociedade através do Estado (que é de todos). Vemos de forma desavergonhada a editorialização da notícia: "No Brasil não temos liberdade de imprensa, mas liberdade de empresa", como diz Cícero Sandroni.
ResponderExcluirTereza, excelente a sua colocação. Sabemos existem confortáveis no meio da comunicação social, que quando incomodados lutam para manter seus padrões conservadores. Os donos de concessões de radio difusão vivem a lógica de um sistema econômico injusto, não querem saber de direitos humanos só querem direito ao seu lucro e que de preferência sejam cumulativos. Audiência maior seja lá como for, mesmo que preconceitos sejam divulgados, esteriótiopos da mulher com objeto sejam mantidos, entretenimento do lugar de conscientização, estímulo ao consumo 24 horas, espetacularização da notícia; cumprir os artigos 220, 221,222,223 da Constituição é para os outros, para nós, donos da mídia, queremos liberdade total. A comunicação social é essencial para provocar transformações sociais para o país que tanto desejamos, para sedimentar a cidadania, ou seja o homem de direitos. Imagino a pressão que o governo sofre deste poder midiático que na realidade pertence ao povo. A democracia só será plena quando a comunicação também o for. E chegaremos lá. É preciso regular a mídia e incluir o povo nesse poder.
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